Fluoxetina

Tudo Sobre a Fluoxetina – Visão do Neurologista

Se você quer saber Tudo Sobre a Fluoxetina, na Visão do Neurologista, um famoso antidepressivo, fique até o final deste artigo, porque o Dr. Willian Rezende do Carmo, médico neurologista, fundador da Clínica Regenerati e que no seu canal do YouTube fala sobre Dor, Sono, Parkinson, Emoção e Neurologia Geral, vai abordar sobre isso.

Tudo Sobre a Fluoxetina

Neste conteúdo, vamos explicar sobre a Fluoxetina, quais são as suas indicações, como ela funciona, como é o metabolismo dela, as suas apresentações, o seu uso em populações específicas, as interações medicamentosas e os efeitos colaterais.

A pessoa fica ‘abobada’ vendo um mundo todo rosa? Ela fica dependente? Por que as pessoas têm tanto medo ou preconceito? Por que é tão utilizada? Ela é o melhor antidepressivo ou é pior por ser mais antigo? Tudo isso vai ser respondido.

Indicações

Primeiro de tudo: vamos começar com as principais indicações dela.

Teste de Depressão (PDQ-9)
Esse teste é adaptado do PDQ-9 para quantificação do grau de depressão

Depressão, Associada ou não à Ansiedade

Ela é indicada para tratar depressão, associada ou não à ansiedade, que é fundamentalmente definida pela redução do prazer, não necessariamente a pessoa tem que ter tristeza para ter depressão.

Portanto, nasceu como antidepressivo, foi um dos primeiros que fez maior sucesso e realmente teve uma eficácia maior; é a primeira grande indicação dela.

Bulimia Nervosa

Pode ser para tratamento de bulimia nervosa, que é quando, especialmente, mulheres, mas homens também, ficam comendo e provocando vômito daquilo que come.

Crise de pânico - Como reconhecer e ter controle
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Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) (?)

E igualmente é utilizada para tratar o famoso TOC, que é o Transtorno Obsessivo-Compulsivo, um tipo de ansiedade, é a pessoa que tem mania de alguma coisa, como de perfeccionismo, organização, limpeza, de que não pode pisar em linha, de bater, coisas assim.

TOC não é só grave, existe TOC da pessoa ficar obsessiva com um tipo de pensamento e o ruminando o tempo todo, e isso vira um transtorno obsessivo que a leva a ter compulsões de fazer alguma outra coisa. Às vezes, é mais comum do que as pessoas imaginam.

Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM), Incluindo Tensão Pré-Menstrual (TPM), Irritabilidade e Disforia (Mal-Estar Provocado pela Ansiedade)

Ela também é indicada, de bula, para transtorno disfórico pré-menstrual, incluindo a tensão pré-menstrual, a TPM. E também, até mesmo, a irritabilidade e a disforia relacionada à menstruação. Ou seja, qualquer problema emocional que afeta a pessoa relacionada à menstruação, tanto antes quanto durante a menstruação, a Fluoxetina é especialmente boa.

Não deixe as emoções te dominarem!
Problemas com emoções não são normais e nem frescura, não importa a idade. Busque ajuda com um profissional da saúde.

Assim como é voltada para síndromes ansiosas, especialmente que tenham a irritabilidade e a disforia, que é um mal-estar provocado pela ansiedade.

Off-Label: Ajudar a Emagrecer

Ela igualmente é utilizada de maneira off-label, apesar de ser uma indicação comum, para ajudar a emagrecer, porque um dos possíveis efeitos colaterais, comum, é reduzir, controlar o apetite. E como também ajuda a reduzir efeitos da TPM, que normalmente fazem a mulher comer mais, ajuda em certos aspectos da ansiedade.

Como Funciona?

É um medicamento antidepressivo que atua na inibição da recaptação da serotonina. Um neurônio não encosta no outro, ele fica próximo, bem juntinho, e quando chega o sinal, solta um neurotransmissor.

Recaptação de Serotonina

Tem vários tipos de neurotransmissores; um deles é a serotonina. Ele solta algumas serotoninas e ela fica na fenda sináptica; em um espaçozinho entre os neurônios fica a serotonina. E é recaptada: ela foi solta, volta para ser degradada e servir de base para fazer uma nova serotonina.

A pessoa tem serotonina normal na fenda sináptica, isso funciona bem; o neurônio solta a serotonina, tem a serotonina em quantidade normal na fenda sináptica, o próprio neurônio a chupa de volta e assim vai fazendo esse processo.

Quando tem um processo depressivo, a quantidade de serotonina, a eficácia dela, ou o receptor, alguma etapa desse processo, não está funcionando tão bem. E o antidepressivo funciona no transportador de serotonina que faz a sua recaptação, ele não deixa ser captada, então, ela é jogada na fenda sináptica e não é puxada de volta, logo, acaba tendo mais serotonina na fenda sináptica, na transmissão. E isso é a base do funcionamento da Fluoxetina.

Não tem Correlação com Serotonina do Sangue

E olha que interessante: ela não tem a ver com a serotonina do sangue, ela importa mesmo com a serotonina do cérebro, na fenda sináptica, na serotonina do neurônio. A quantidade de serotonina na fenda sináptica não tem nenhuma correlação com a serotonina do sangue, que pode estar normal, ótima, e a da fenda sináptica não estar funcionando nada, sendo pouquinha, porque a doença é no cérebro, não no sangue, que tem relação com a função das plaquetas.

Poucas Horas o Medicamento Está Pleno na Fenda, Efeito Apenas Após Semanas

O que é importante saber? O tempo de funcionamento e como ela vai funcionar, não é só porque já chegou no neurônio que está funcionando. Se você ingere uma Fluoxetina, em 6 a 8 horas já está no cérebro plenamente e fazendo o que tem que fazer, desde esse primeiro momento até a última vez que estiver tomando, vai estar fazendo esse mesmo trabalho, ela não muda de função ao longo do tempo.

“Ah, então por que tem essa diferença entre tomar e começarem os efeitos”? Porque todo mundo já ouviu falar que o antidepressivo, a Fluoxetina, você começa a tomar e o efeito vai começar a vir depois de duas semanas, e vemos bem após 4 semanas. Tem esse ‘gap’, essa diferença, entre começar a tomar e ter o efeito clínico, mas não é porque está enchendo o tanque e só depois desse tempo que tem bastante serotonina na fenda sináptica.

Assim que você tomou, com 6 horas, a fenda sináptica já está cheia de neurotransmissor. O que importa é que aquele neurotransmissor está começando a ativar o outro neurônio. Por quê?

A fenda manda o sinal, quem antes estava fraco, aquele neurônio meio murcho, quando passa a ser estimulado, começa a ficar mais ativo, mais forte. Ele cria vias e novas conexões, então, vai mudando a função dos neurônios. Depois de ter o estímulo, o neurônio vai crescendo, ganhando novas conexões e isso vai tendo uma nova plasticidade e um novo jeito de funcionar.

É igual pensar em uma plantinha: não é porque as plantas estão na plantação, todas estão irrigadas, que vai funcionar. E não é porque pôs adubo no pé que logo a planta já vai ficar vigorosa. Você põe o adubo e tem que continuar irrigando, tem que esperar o adubo entrar na planta, crescer, ter estímulo para que cresça.

É a mesma coisa: você pôs o adubinho, pôs mais serotonina, o outro neurônio que não era muito utilizado, agora, vai começar a ser excitado, a ter uma nova plasticidade neural e novas vias. E assim que começa a funcionar, começamos a ver o efeito clínico duas semanas depois, idealmente quatro semanas após o início do tratamento.

Metabolismo

Agora, como o medicamento é metabolizado? Como funciona no nosso corpo?

Metabolizado no Fígado

Fundamentalmente, é metabolizado no fígado, ou seja, é o ‘figueiredo’ que a metaboliza.

Liga-se às Proteínas Plasmáticas

Tanto a Fluoxetina quanto o metabólico dela, a Norfluoxetina, são ativas no corpo, elas estão fundamentalmente ligadas às proteínas plasmáticas, que são como a albumina e várias outras proteínas que temos no sangue e ficam carreando o medicamento.

Meia-Vida de 4 a 16 Horas

E ela tem uma meia-vida, o tempo que gasta para que aquela substância caia pela metade no sangue e assim por diante. Por exemplo, se tinha uma concentração de 10 mg de Fluoxetina em todo o sangue, se você não continuar pondo diariamente, ela vai gastar, em média, de 4 a 16 dias para cair para 5 mg. Logo, vai gastar também mais 4 a 16 dias de 5 para 2,5; de 2,5 para 1,25, assim por diante.

Então, é considerado que ela tem uma meia-vida longa, durando de 4 a 16 dias no corpo. Isso significa que é um medicamento que se você parar de tomar, demora um pouco para sair do corpo.

Apresentações

Fluoxetina tem várias formas, é um sal e a substância pode estar dentro de cápsulas gelatinosas, que é aquilo que você amassa; pode ser um comprimido, aquele que você corta – dá para cortar porque é um pó que foi literalmente comprimido.

Cápsulas Gelatinosas 10 mg, Comprimidos e Cápsulas de 20 mg, e Solução Oral 20 mg / ml (Maior Tolerabilidade Gástrica e Bariátricos)

Tem cápsulas gelatinosas de 10 mg, comprimidos de 20 mg e existem cápsulas de 20 mg também. Existe também a solução oral de 20 mg por ml, que dá, normalmente, 1 mg por uma gota – se pingar direitinho, é 1 mg por 1 gota.

Cada um tem suas especificações: a de 10 mg serve para poder titular a dose. O comprimido em relação à cápsula para quem tem algum grau de intolerância. A solução é muito boa para crianças e até mesmo para poder ir subindo a dose gradativamente, ou para achar a dose que seja melhor para a pessoa.

Em alguns casos, principalmente pacientes que tenham uma sensibilidade gástrica muito grande ou especialmente pós-bariátricos, a solução oral, gotas, é melhor tolerada do que a apresentação em cápsula ou comprimido.

E isso é importante porque, muitas vezes, o paciente teve uma experiência ruim com o medicamento porque já começou com 20 mg de uma vez e não necessariamente que a pessoa vá ter uma relação ruim sempre. Se começa, às vezes, em uma dose pequenininha e vai subindo bem paulatinamente, pode ter outra experiência com o medicamento e dar tempo para o corpo ir se adaptando ao fármaco de uma maneira bem melhor.

Uso em Populações Específicas

Populações específicas são gestantes, lactentes, crianças, idosos, adolescentes, diabéticos, com deficiências renal, hepática, epiléptico. São pessoas que temos que prestar atenção porque existem certos senões e poréns.

Gestantes

Na gestante, começa-se pelo conceito de que é um medicamento de categoria ‘C’. Vão tendo as categorias em que ‘A’ é o melhor de todos; ‘B’ é o segundo melhor; ‘C’, ‘D’, ‘E’ e ‘X’. E ‘C’ é algo intermediário, que não tem tantos dados e estudos sistemáticos e revisados para comprovar toda a segurança, mas já existem muitos relatos de mulheres que acabaram utilizando durante a gestação e mostraram que até então não teve um maior número de malformações, ou seja, não tem evidência de que a Fluoxetina gere malformações dos fetos.

O que pode acontecer, e que ainda assim é raro, é sintoma de retirada aguda dos recém-nascidos. Tipo, o recém-nascido está recebendo uma fraçãozinha pequenininha da Fluoxetina através do sangue da mãe.

Quando nasce, deixa de receber, então, tem alguns sintomas, como tremor, irritabilidade, choro fácil, relacionados à retirada abrupta da Fluoxetina do bebezinho. Mas isso passa rápido também, não é nada de outro mundo e, tipo assim, não gera nenhum outro maior problema.

Lactentes

Nos lactentes, a Fluoxetina é excretada no leite, mesmo que em baixas doses, e, normalmente, não afeta o bebê. Mas tem que saber disso, porque caso a mãe esteja tomando uma dose de Fluoxetina muito alta, como 80mg / dia, é maior a chance de ter algum grau de concentração de Fluoxetina no leite da mãe e isso acabar indo para o bebê.

Crianças

Não existem estudos em crianças abaixo de 7 anos. Já existem muitos estudos em crianças acima desta faixa etária e é indicada para aquelas que tenham as devidas indicações, como TOC, por exemplo, transtornos alimentares, com um tipo de bulimia, ou transtornos de ansiedade.

Idosos

O que tem de especial no idoso? Ela facilmente leva o idoso a ter agitação, distúrbios do sono, sono agitado, ficar acordando, tendo insônia, ou uma estimulação excessiva do sistema nervoso central. Por quê? Ao contrário do que muita gente imagina, a Fluoxetina, apesar de também tratar a ansiedade, é um medicamento excitatório. Tipo, para sair da depressão, a pessoa tem que ser jogada para cima.

Qual é a grande questão? No idoso tem que ser usadas doses menores, especialmente, devido ao metabolismo não linear do medicamento nele, em que o rim já não é mais o mesmo, toma um monte de remédio, tem as proteínas plasmáticas de uma maneira diferente.

Tipo, no idoso, tem que ir tudo mais baixo com medicamentos de sistema nervoso central, especialmente Fluoxetina, que já é muito bem comprovada.

Adolescentes

Adolescentes tornam-se uma população específica; por quê? Em adolescentes e adultos que vão até 25 anos, mostrou-se que ela pode aumentar o risco de suicídio. Por quê? Melhora a energia antes da depressão.

Explicamos que a depressão começa a melhorar com 14 dias para frente, com duas a quatro semanas. Só que antes disso, a pessoa já sente energia. E, às vezes, ela ainda está cheia de pensamento ruim na cabeça, “ah, vou me matar, me ferir, vou fazer coisa ruim”. E antes não tinha nem energia para fazer isso, depois que toma a Fluoxetina, está com a cabeça ruim ainda e, às vezes, tem energia para realizar.

Só que os adolescentes têm menos crítica e menos controle de impulso. Por isso, tem que ficar bem mais atento a eles, especialmente naqueles que tenham alguma questão de pensamento suicida na introdução da Fluoxetina.

Não é proibitivo, mas tem que ter essa maior precaução. Normalmente, tem que ser mais assistido, o adolescente tem que ter o início da terapêutica, tem que ficar mais de olho nele para não fazer nada.

Diabéticos

Em diabéticos, a Fluoxetina pode causar uma leve queda da glicose, pode ajudar a baixar um pouquinho a glicemia. Isso tende a ser especialmente ruim naqueles pacientes diabéticos que utilizam medicamentos de controle da glicose, que facilmente já causam hipoglicemia, como a insulina ou a sulfonilureias, como a gliclazida, que é muito utilizada.

Se a pessoa usa gliclazida e insulina, e põe mais a Fluoxetina, facilmente tem hipoglicemia, porque são vários medicamentos que acabam forçando e facilitando de ter a hipoglicemia. A questão é só ser bem atento para evitar o risco de hipoglicemias.

Insuficiência Renal

Em relação à insuficiência renal, tem que fazer o cálculo e ajustar a dose conforme a condição.

Insuficiência Hepática (Cirrose)

Insuficiência hepática, especialmente quem tem cirrose, tem que utilizar doses muito menores e, possivelmente, considerar trocar a Fluoxetina, porque o cirrótico já tem facilidade de sangrar e a Fluoxetina também facilita a pessoa de ter uma atividade da plaqueta pior e facilita sangramento. Além dela não ser tão bem metabolizada, então, fica em doses maiores do que seriam em quem tem o fígado normal.

Epilépticos

E em pacientes epilépticos, especialmente se a epilepsia não está super bem controlada, pode aumentar o risco de ter crises convulsivas, porque é um medicamento que tem um componente excitatório. A Fluoxetina pode trazer um grau de excitação e isso aumentar o risco de crises convulsivas nos epilépticos.

Você que está lendo o artigo, escreva nos comentários o que acha do uso da Fluoxetina, quais são suas dúvidas, seus temores e qual é a sua experiência com o uso da Fluoxetina, pois é um fármaco muito utilizado já pela humanidade, é bem acessível e várias pessoas têm experiência com ele.

Interações Medicamentosas

Extremamente importante, é muito comum a Fluoxetina ser utilizada com outros medicamentos.

Drogas com Ação no Sistema Nervoso Central

Em relação às drogas de ação do sistema nervoso central, especialmente fenitoína, carbamazepina, que são anticonvulsivantes; ou haloperidol, clozapina, que são antipsicóticos; diazepam, alprazolam, que são calmantes; lítio, que é um estabilizador do humor; e imipramina, que é um antidepressivo tricíclico, têm variações no nível do sangue muito grande, justamente porque disputam espaço de competição de ação e têm maior risco de síndrome serotoninérgica; e isso é real.

A pessoa que esteja utilizando aldol em uma dose mais alta e põe Fluoxetina em uma dose mais alta tende a ter um risco de um grande excesso de serotonina no cérebro, e ter uma síndrome serotoninérgica. Ela começa a ter várias contraturas, pode ter aumento da temperatura, confusão mental. E, tipo, não é incomum e Fluoxetina é danada para dar, especialmente, com esses outros.

E pode ter também agravo de sintomas de outros medicamentos, pode potencializar o efeito negativo dos mesmos. Especialmente para esses, fenitoína, carbamazepina, haloperidol, clozapina, diazepam, alprazolam, lítio e imipramina, tem que ficar atento às interações medicamentosas, pois tende a aumentar muito os efeitos colaterais.

Medicamentos da Coagulação

Medicamentos de coagulação, que são feitos para ralear o sangue, ou seja, para evitar de formar trombos, de ter AVC ou para tratar a trombose, como AAS, clopidogrel, varfarina, ou anticoagulantes novos, como Pradaxa, Xarelto, Eliquis.

Todos esses são fármacos que facilitam a pessoa de sangrar. Especialmente comum quando o paciente não está utilizando um fármaco só, está usando um clopidogrel e um AAS, usa um AAS com um Pradaxa. Principalmente, quando tem essas associações e entra ainda a Fluoxetina, aumenta o risco de sangramento, porque vai acabar afetando a recaptação da serotonina e isso vai afetar também a função das plaquetas.

Afetando a função das plaquetas, afeta a coagulação e fica como se ficasse com um sistema de coagulação pior ainda com a Fluoxetina. Então, tem que ter especial atenção se a pessoa usa medicamentos de coagulação e entra ainda a Fluoxetina, especialmente se usa mais que um deles e for idoso, o que proporciona mais risco ainda.

Medicamentos que se Ligam Fortemente às Proteínas Plasmáticas

A Fluoxetina é transportada pelas proteínas e tudo que afeta as proteínas afeta o medicamento. Por exemplo, se a pessoa perdeu muita proteína do sangue, seja por uma doença do rim ou porque não ficou nutrida, cai a proteína do sangue e isso afeta a função da Fluoxetina.

Ou se ela tomou medicamentos que disputam o local dela, a proteína é como se fosse um ônibus que cabe alguns fármacos. Alguns ocupam um monte de assentos, outros ocupam todos, outros ocupam um pouco.

Os que ocupam muitos assentos no ônibus da transportadora de plasmáticos acabam retirando o fármaco e isso afeta o funcionamento do mesmo no corpo. Fármacos como furosemida, Ácido Valproico e o AAS afetam a ligação plasmática da Fluoxetina com as proteínas.

Álcool

E em relação ao álcool, olha que interessante: a Fluoxetina não aumenta o seu nível, nem o álcool o da Fluoxetina e nem a Fluoxetina intensifica os efeitos do álcool no corpo.

Não é recomendada a utilização do álcool com a Fluoxetina, especialmente no primeiro mês, que é o de adaptação ao medicamento. A pessoa já está se adaptando a uma substância nova que vai fazer um monte de efeito no sistema nervoso dela, vai ter um monte de efeito de adaptação ao fármaco, se toma uma ‘biritinha’, passa mal e bota a culpa na coitada da Fluoxetina que ia ajudar.

Então, para não ter confusão, normalmente não é recomendado. Depois que a pessoa está adaptada ao medicamento, pode fazer uso de bebida alcoólica, especialmente de estômago cheio, bem hidratada, porque, senão, tem os problemas normais de álcool.

Efeitos Colaterais

Pode ter uma lista imensa ou se você lê a bula, tipo, é um caminhão de efeitos colaterais, mas o advogado manda colocar todo e qualquer possível efeito colateral, mesmo que o negócio seja extremamente raro ou qualquer coisa absurdamente rara tem que pôr, porque é a forma do laboratório se defender. Mas o que importa na prática é que são as coisas que são muito comuns e as que são comuns.

Muito Comuns

O que é muito comum? Pode alterar o funcionamento do tubo digestivo, por exemplo, como ter diarreia, náuseas, também afetar o sistema músculo-esquelético, como a sensação de fadiga, de cansaço e, às vezes, até mesmo uma astenia, o músculo parece que fica meio mole, meio fraco. A pessoa parece que está com falta de energia, faz as coisas e sente com pouca energia.

Ela pode dar dor de cabeça também, porque deixa os músculos afetados de ‘X’ maneira e dá, tipo, uma “pequena” inflamação e isso facilita de dar dor de cabeça, porque como facilmente é excitatória, pode dar insônia.

E pode dar tipo uma síndrome gripal, “como se” a pessoa estivesse meio que parecendo que está gripada, com a faringe meio inflamada, uma rinite ou uma sinusite.

O mais comum nem é faringite ou sinusite, é a rinite. A pessoa sente que o nariz está mais congesto, parecendo estar gripada, mas não está, não teve outra coisa. Isso dura pouco tempo, normalmente, é no período de adaptação e de introdução ao medicamento – acontece em torno de 10% das pessoas.

Comuns

O que são coisas comuns? Comuns são coisas que acontecem entre 1% e 10% das pessoas que utilizam – isso é um conceito de algo comum e ainda assim é uma porcentagem pequena.

São palpitações, sendo que palpitação não é o coração acelerado, é a sensação do coração acelerado. A pessoa sente que o coração está batendo, mas se ver a frequência cardíaca, não está aumentada, mas ela está sentindo a frequência cardíaca e isso é incômodo, mas não é nada de outro mundo.

Ela pode dar uma visão turva, que é como se a pessoa fosse tentar ler uma coisa e parece que não foca direito, custa para ajustar o foco de visão. E também é outro efeito colateral que se ajusta e melhora.

Boca seca vem, de início é muito intenso, diminui, mas não passa tudo. Pode ter agitação, perda de peso é comum. Diminuição do apetite é muito comum, apesar deles colocarem como comum, a percepção é de que é bem mais comum.

Tremor, normalmente vemos quando vamos subindo mais rápido e na fase de subida, especialmente com doses que vão chegando de 40 mg ou mais. Pode ter sonolência, sonhos anormais, diminuição da libido, que de início é bem pior, depois sobe, normalmente não volta ao patamar de antes.

Mas se a pessoa está com a libido no chão por conta da depressão, ao tomar o antidepressivo, às vezes, vem a melhorar. Por quê? O que faz cair libido mesmo é depressão ruim, muita ansiedade, não é só antidepressivo. Agora, se a pessoa está com a libido mais ou menos ‘ok’, pode ter uma queda, depois volta e fica.

Pode ter também dificuldades no orgasmo, tanto para ejacular quanto propriamente para ter o orgasmo na mulher e coisas do tipo. E não é que não consiga, mas fica demorado e isso também vai normalizando. O tempo para conseguir chegar no orgasmo, normalmente, vai diminuindo até chegar em algo normal.

A pessoa acaba tendo bocejos e não está com sono: ela está trabalhando, boceja e ‘vida que segue’. E não é que está tendo sono, mas pode ter bocejos sem sono. Pode ter, em alguns casos, nervosismo, inquietação, especialmente no início do tratamento, que são efeitos colaterais comuns.

E, normalmente, todos eles são comuns nas duas primeiras semanas de introdução do fármaco, em que a pessoa tem mais efeitos colaterais do que benefício, depois que inverte, os efeitos colaterais diminuem, começa a vir o benefício.

A Pessoa Fica ‘Abobada’ e Vendo o Mundo Todo Rosa?

É muito comum as pessoas me perguntarem, “ah, se eu tomar Fluoxetina, vou ficar ‘abobada’? Vou conseguir raciocinar? Vou ficar vendo o mundo todo cor de rosa? Tipo, o povo vai poder fazer maldade e eu, ‘ah, tudo ok’”?

Não é assim, os antidepressivos e a Fluoxetina não funcionam dessa maneira. Ela ajuda a pessoa a sair do estado de doença, que é de depressão e de ansiedade, para um estado de normalidade.

O que sempre explicamos para os pacientes? É como se a pessoa tivesse miopia, em que vê de maneira míope. Sem o dispositivo médico, não enxerga, com ele, enxerga normalmente.

O medicamento, para quando a pessoa tem um problema, é igual os óculos. Quem tem óculos sabe que quando os põem, enxerga melhor, mas de início fica incomodada. E tem que ir dosando para achar o grau adequado dos óculos.

A pessoa pondo o medicamento, o cérebro para de enxergar o mundo de uma maneira míope, para de enxergar o mundo através da ótica da depressão ou da ansiedade. Ela para de ver o mundo pela ótica da doença.

E como vê o mundo? Vê o mundo como ele é. Não é que vai ver o mundo melhor, não vai ver o mundo cor de rosa, ela não vai ver só as coisas.

Teve um desserviço que ‘Os Simpsons’ fizeram nos anos 1990, ou no início dos anos 2000, porque tinham pouca assessoria médica naquela época. Mas depois até voltaram a se retratar em episódios mais atuais a respeito disso.

Teve um episódio em que foi prescrito para a Lisa um antidepressivo e ela começava a ver todo mundo com a cara de um smiley. O bêbado vomitando, saiam smileys, aquela carinha amarela com um sorriso, e ficava só com aquela cara…

Aquilo acaba trazendo para o imaginário das pessoas uma falsa concepção do funcionamento de medicamentos, sendo que não é isso. A questão é que antes a pessoa vê o mundo de uma maneira errada, vê as coisas de uma maneira pior, pela ótica da doença. E quando vem o medicamento correto, ela precisa dele e ele ajuda: o que ele faz é fazer a pessoa a ver o mundo como ele é, só isso.

Às vezes, o paciente chega e fala, “doutor, eu estou normal”. E isso é bom, estar normal é bom. Não é a pessoa estar supranormal. Se ela chega assim, está errado.

Fica Dependente?

Outra pergunta comum das pessoas: “o paciente fica dependente da Fluoxetina?” Não, porque o conceito de dependência tem que ter tolerância com a substância, abstinência e comportamento de busca.

Se a pessoa usa cocaína, tem que usar gradativamente doses mais altas, porque tem tolerância. Se fica sem cocaína, tem abstinência, que são os efeitos contrários ao que se tem com a cocaína. Ela fica toda mole, sem energia e tem comportamento de busca pela substância, fica desesperada, começa a querer caçar cocaína de tudo quanto é jeito, e isso é dependência.

A Fluoxetina não tem tolerância, você pode usar 10 mg, ser sua dose e passar a vida inteira que continua funcionando da mesma maneira. Ela não tem efeito de comportamento de busca da substância. A pessoa que retirou a Fluoxetina não fica: “aí, eu tenho que buscar uma Fluoxetina, cadê? Eu vou na ‘boca’ comprar uma Fluoxetina”.

Ela pode ter uma coisa que chama síndrome de descontinuidade, em que a pessoa tem sintomas pela falta ou redução abrupta da dose do fármaco. Mas não que isso seja a abstinência, que tem que ter sintomas iguais, de maneira contrária ao efeito que a substância produz e de igual intensidade.

A Fluoxetina tem a chamada síndrome de descontinuação: a pessoa se sente ruim, pode ter alguma agitação, uma inquietude, mas não uma abstinência, igual ficam indivíduos drogados ou que são dependentes de substâncias.

Por que as Pessoas Têm Tanto Medo ou Preconceito?

Por que as pessoas têm tanto medo ou preconceito da Fluoxetina?

Por desconhecimento, por achar que ela causa dependência, porque fica ‘abobada’ ou porque simplesmente vem a palavra ‘antidepressivo’, que denota que a pessoa tem uma ‘depressão’. E não é só para isso, porque também é utilizada para síndromes ansiosas, TPM, transtorno disfórico, bulimia, emagrecer etc.

E também não tem problema nenhum alguém ter depressão. As pessoas têm tanto preconceito com essa palavra que faz atrasar o diagnóstico e os pacientes não terem o correto tratamento pelo preconceito.

O que isso significa? “Ah, se eu estou tomando antidepressivo é porque estou depressivo e não estou, não estou chorando”. Como se chorar e tristeza fossem os únicos sintomas de depressão, e não são.

Por que é Tão Utilizada?

Porque ela funciona para um monte de coisas, é relativamente antiga, está aí desde o início dos anos 1990 e é barata, tem de graça no SUS, é muito amplamente difundida, é um fármaco muito utilizado. E até mesmo porque a ansiedade e depressão são prevalentes; o Brasil é o país mais ansioso do mundo, por isso, acaba sendo um fármaco muito utilizado.

Fluoxetina é o Melhor Antidepressivo? Ou é Pior Por Ser Mais Antigo?

Não dá para falar se ela é melhor ou pior, nem por ser mais antiga quer dizer que seja pior, nem quer dizer que os mais modernos sejam melhores. Nem porque é mais antiga, é melhor também.

Ela tem que ser de acordo com o caso específico, a escolha do fármaco tem que ser direcionada pelo tipo do problema da pessoa. Se tem problemas que se encaixam perfeitamente bem com o perfil do fármaco, é bom para ela, independente de ser antigo ou não.

E nisso, resolve-se o problema de querer dizer que por ser um fármaco barato e antigo quer dizer que não seja bom, quer dizer se o negócio é adequado ou não para aquela pessoa, somado às especificações dela.

Você que está lendo o conteúdo, se conhece alguém que utiliza a Fluoxetina, já utilizou ou tem interesse em antidepressivos, envie o link deste artigo para essa pessoa, porque pode ser que você a ajude a ter maior consciência de uma substância que é tão comum no nosso dia a dia.

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