Sequelas Neurológicas da COVID-19

Sequelas da Covid – Sequelas Neurológicas da COVID-19

Se você quer saber quais são as Sequelas Neurológicas da COVID-19, fique até o final deste artigo que o Dr. Willian Rezende do Carmo, médico neurologista, fundador da Clínica Regenerati e que no seu canal do YouTube fala sobre Dor, Sono, Parkinson, Emoções e Neurologia como um todo, vai abordar mais sobre isso.

Possíveis Sequelas Neurológicas da COVID-19

A Covid traz várias alterações no corpo, como todo mundo já sabe; eu vou falar dela como a doença inflamatória, como se distribuem esses sintomas neurológicos nas pessoas, como ocorre essa piora neurológica através da Covid e o que pode ser feito para amenizá-las.

Covid é uma Doença Inflamatória

Antes de tudo, o que temos que ter em mente é que a COVID-19 é uma doença inflamatória. O grande e o maior problema de todos da Covid nem é propriamente o que o vírus faz ou o dano dele, e sim, o processo inflamatório exagerado que ele causa no corpo.

É através desse processo inflamatório exagerado que o pulmão fica todo inflamado e não consegue respirar; ele causa a formação de trombos que entopem a passagem de sangue pelo pulmão, tromboses, sangramentos, toda a problemática que vemos do vírus.

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E a definição do problema do vírus é a inflamação global que ele causa no corpo. Tanto que uma das terapêuticas, e das principais, é utilizar corticoide logo que percebe que é o vírus, porque assim acabamos diminuindo a inflamação global e melhoramos a resposta. Mas não é uma coisa obrigatória, porque o vírus tem processos inflamatórios que ainda não conseguimos compreender.

Covid Piora o que Já Está Ruim na Pessoa

Já foi percebido que o vírus faz, fundamentalmente, piorar o que a pessoa tem de pior. Se ela já tem: sintomas neurológicos e psiquiátricos, cognitivos, que ela já é meio esquecida, desatenta; tendência à depressão, ansiedade; sintomas parkinsonianos; dores pelo corpo; dor de cabeça, no joelho; o vírus piora esses sintomas todos durante a própria inflamação, durante e após a infecção.

Covid Também Pode Causar Novos Sintomas

A pessoa não necessariamente tinha nenhuma doença, conhecida pelo menos, nenhum déficit de atenção, não tinha outro sintoma psiquiátrico, e ela pode desenvolver sintomas, como déficits cognitivos ou de atenção – é muito comum o paciente ficar com uma névoa mental, parece que o cérebro não está da mesma maneira, tem uma névoa turvando o raciocínio da pessoa.

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Ter ansiedade, depressão novas, psicoses, começar a achar que está paranoica, ter paranoia de pessoas, mania de perseguição, crises convulsivas novas e até mesmo dores novas pelo corpo, especialmente dor de cabeça, que é um sintoma comum do vírus da COVID-19.

Epidemiologia dos Sintomas Neurológicos e Psiquiátricos (NPs)

A quem ele afeta? Quais são as pessoas que acabam tendo sintomas neurológicos da Covid, como dor, convulsão, esquecimento, depressão? Os sintomas pós-COVID-19 acometem de 20% a 70% dos pacientes segundo um estudo de acompanhamento natural dos pacientes (ingleses e alemães) com COVID-19 na Europa.

Foi um acompanhamento grande e o número ainda é variado, porque tem variações muito grandes de regiões dos centros de onde vai observando, mas o fato é que de 20% a 70% é um número grande e os graus de variação, de acometimento também – a pessoa pode ter um esquecimento pequenininho e tem quem fique realmente muito esquecido.

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E os sintomas podem durar meses após a resolução dos sintomas respiratórios, ou seja, passou a Covid, aquela falta de ar, aquela canseira toda, e a pessoa ainda fica esquecida por um tempo, pioram as dores e não melhoram espontaneamente – e isso é uma realidade.

Em alguns casos, pode até não melhorar, passar anos e a pessoa ainda continuar daquela mesma maneira – não anos, mas pelo menos um ano que já se deu desde o início da pandemia.

E a gravidade dos sintomas neurológicos está diretamente correlacionada com a gravidade dos sintomas da COVID-19. Quanto mais grave for o episódio da pessoa, mais grave costuma ser a tendência dos sintomas das sequelas neurológicas.

Mas essa não é uma correlação obrigatória, pois tem vários pacientes que não tiveram tantos sintomas respiratórios, mas muitos sintomas de dor ou psiquiátricos, ou até mesmo de esquecimentos e de névoa mental – isso já vi no consultório e é relatado também que não obrigatoriamente a pessoa tem que ter sintomas respiratórios proeminentes para ter sequelas neurológicas maiores.

Você que está lendo o artigo, escreva nos comentários “Sequelas Neurológicas da COVID-19” e diga o que teve ou alguém teve, ou quais são suas dúvidas.

Eu mesmo tive Covid que piorou o que tenho de mais fraco: uma das coisas que tenho no meu organismo que não é muito forte é o meu sistema digestivo. Eu tenho facilidade para ter desarranjo intestinal, o meu estômago facilmente fica dando náuseas, tenho mal-estar estomacal, má digestão e isso é uma coisa comum na minha família, especialmente do lado do pai.

Quando veio a Covid em mim, a primeira coisa que piorou foram os sintomas de trato digestivo. Eu comecei a ter muitas náuseas, dava uma sensação de que queria vomitar e não tinha nada, tinha só ar, muitos gases, muita eructação – que é o arroto –, muita sensação de que iria cair a pressão por conta de mal-estar digestivo.

E isso, em mim, ficou um bom tempo e por quase todo o período da Covid foi assim. Depois, quando vacinei – a primeira dose especialmente –, voltei a ter um pouco desses sintomas digestivos.

O corpo volta a produzir uma inflamação para defender a memória de defesa contra o vírus e voltei a ter esses sintomas, porque o vírus piora o que temos de pior; lembre-se disso. E tudo que tem de inflamatório no corpo, que inflama e afeta o vírus, tem tendência a piorar.

Sequelas Neurológicas da COVID-19: Como Ocorre a Piora

Ele provoca a elevação das quimiocinas e das citocinas inflamatórias, faz a chamada tempestade de citocinas; o que produzimos normalmente como uma forma de ativar o sistema imune para defender de micro-organismos.

Se fica elevado ao extremo, chamamos de tempestade de citocinas, que são as IL-6, IL-10, TNF-alfa (TNF-α). “IL” é de Interleucina, a Interleucina 6, a Interleucina 10, e TNF é o Fator de Necrose Tumoral Alfa, que não precisa ter tumor, mas é um processo, uma molécula que ativa a inflamação.

Todas essas quimiocinas e citocinas ativam a micróglia e os astrócitos, que são células que fazem parte da infraestrutura do cérebro e prestam um suporte de infraestrutura aos neurônios; elas não necessariamente fazem o trabalho de transmissão de atividade sináptica dos neurônios, mas acabam influenciando a atividade dos neurônios, prestando um serviço de infraestrutura, vamos assim dizer.

Assim, a micróglia e os astrócitos vão secretar mais glutamato, que é um neurotransmissor, e acabam fazendo um up regulation ou uma subida de receptores NMDA, que são próprios do glutamato.

Isso acaba afetando negativamente a memória, o aprendizado e a neuroplasticidade; igual a outras patologias quando isso ocorre também, quando tem um aumento do glutamato e do NMDA acaba tendo uma piora do aspecto de memória, aprendizado e neuroplasticidade.

Além disso, os fatores inflamatórios – que estão em todo o corpo, não só no cérebro – vão também afetar a biotransformação do triptofano em quinurenina. A quinurenina é um metabólito da transformação do triptofano, que, na verdade, é uma quimiocina, ou seja, uma molécula de inflamação.

O que é o problema? O triptofano tem que ser transformado em serotonina; ele é um aminoácido que tem uma transformação, é uma molécula que vai ser transformada em serotonina, que é o principal neurotransmissor do cérebro relacionado à depressão e à ansiedade. Quando a serotonina está baixa no cérebro, isso afeta a pessoa com sintomas de ansiedade, depressão, fadiga.

E foi visto que durante a Covid, quando a pessoa está inflamada, tem um desvio da transformação do triptofano para essa molécula, que é a quinurenina, e não transforma tanto o triptofano em serotonina, ou seja, falta serotonina no estoque do cérebro.

Isso foi percebido através de estudos com o PET neurológico ou o PET cerebral com fluorodopa. Essa depleção de serotonina afeta a pessoa com sintomas comuns de, por exemplo, depressão, fadiga, ansiedade, que são comumente vistos também no pós-Covid.

E o mais interessante: esses sintomas não respondem bem a antidepressivos comuns, que são inibidores da recaptação de serotonina – igual já expliquei em outros artigos e vídeos do meu canal no YouTube, o neurônio libera a serotonina que está na fenda sináptica, depois ela é recaptada e degradada. E se põe o inibidor da recaptação, a serotonina que estava dentro do neurônio, que foi liberada para fora, não vai ser recaptada e vai permanecer do lado de fora.

Mas o problema é que já não está tendo no neurônio, se não tem tanta serotonina no neurônio, pouco vai adiantar pôr um inibidor de recaptação, porque não tem que ser recaptada, pois falta, em primeira mão, a própria serotonina.

Então, os antidepressivos inibidores de recaptação de serotonina acabam tendo pouca eficácia na depressão e na ansiedade do pós-COVID, justo porque, na verdade, acaba faltando serotonina como um todo e não tem serotonina a ser recaptada.

O vírus também causa microcoágulos que bloqueiam a circulação da microcirculação cerebral. É o mesmo problema que ele causa microcoágulos que acabam entupindo as artérias do pulmão e dificultando a oxigenação do sangue – e isso é tão grave –, fato que acaba afetando a microcirculação do cérebro também.

Mas a microcirculação do cérebro sendo comprometida não vai levar a pessoa a ter normalmente, um AVC franco, uma morte do tecido cerebral grande, massiva, como a pessoa que tem um AVC de um grande vaso, como de uma carótida interna, cerebral média, cerebral anterior.

A pessoa vai acabar tendo, na verdade, uma má perfusão, uma má passagem de sangue pelo cérebro; isso vai levar a uma micro hipóxia cerebral. Hipóxia quer dizer má oxigenação, ou seja, na microcirculação, na parte pequenininha do cérebro vai estar faltando oxigênio – não vai faltar plenamente, porque vai estar passando em outras partes, mas acaba tendo uma má oxigenação do cérebro.

E esse micro dano no cérebro vai causar sintomas mais prolongados e, às vezes, até mesmo permanentes, como danos de memória, atenção e perda neuronal. Isso também é outra forma que o vírus causa danos neuronais e sintomas ao cérebro.

Também tem a elevação do TNF-alfa e de outras cascatas da inflamação celular propriamente que acaba levando a processos de inflamação mesmo, de a pessoa ficar inflamada igual quando está inflamado o braço, uma perna, um joelho.

Essa inflamação própria de tecido, propriamente dita de músculo, ou órgãos ficando inflamados, vai piorar ou até mesmo causar doenças relacionadas à dor inflamatória, como a enxaqueca. Pessoa que tem tendência a enxaqueca, é muito comum, se ela estava com padrão de enxaqueca linear, pós-Covid ela sobe muito o padrão, porque acaba aumentando muito marcadores inflamatórios como um todo e até mesmo o CGRP e vários outros.

Também, quem tem fibromialgia, a dor piora como um todo pós-Covid. Quem tem dor de artrose no joelho, na coluna, nas mãos, ela piora pós-Covid. Qualquer outra inflamação, se a pessoa tem inflamação no tubo digestivo, crônica, também vai piorar. Tudo isso tem uma grande tendência a piorar, mesmo que por algum tempo ou até meses após a infecção da Covid.

Igualmente sabemos que doenças neurológicas, como a Doença de Parkinson, por exemplo, que tem sabidamente uma gravidade de sintomas neurológicos, sintomas parkinsonianos correlacionados com o nível da IL-6, que é a Interleucina 6, tem uma grande tendência a piorar os sintomas durante a Covid, e, às vezes, alguns meses depois do período após a COVID-19.

Justo porque a Covid aumenta a IL-6, a Interleucina 6, e acaba fazendo a pessoa piorar sintomaticamente do Parkinson, mas também tem uma tendência a melhorar caso vamos estimulando-a com a fisioterapia, EMT e isso vai desinflamando-a – ela pode recuperar, não é que tem uma piora e não volta mais atrás.

Tem também a hipótese de que o vírus possa entrar diretamente no cérebro pelo trato olfatório. Ele entra, causa anosmia e, em seguida, entra em contato com o trato olfatório e vai para o cérebro. E também que ele possa ter contato com os neurônios do tubo digestivo, que é do nervo vago, e através do nervo vago ele venha a subir e a chegar ao cérebro também, mas nada disso foi comprovado ainda.

O vírus foi encontrado em células dos vasos do cérebro, ou seja, na célula que faz o endotélio, que protege mesmo estando fora dos neurônios ainda, mas não foi encontrado diretamente dentro dos neurônios, com o DNA dos neurônios; ele fica do ladinho do neurônio, mas aparentemente não teve a evidência dele entrar no neurônio. Mas ainda estamos conhecendo cada vez mais o vírus que é muito ardiloso, tem cada vez mais sintomas, e, às vezes, mais variantes.

Sequelas Neurológicas da COVID-19: O que Pode Ser Feito?

E o que pode ser feito em relação aos sintomas neurológicos da COVID-19? Muito importante e lembre-se, tudo que eu vou estar falando agora do que pode ser feito ainda está em fase experimental, tem um racional grande, até mesmo por conta de outras inflamações e sintomas neuroinflamatórios, mas ainda está em processo de estudo e aplicação; não é uma coisa que já seja patente e plenamente recomendada.

Para reduzir as citocinas inflamatórias como um todo, quando estão absurdamente altas, é possível utilizar terapias de antagonistas de citocinas, ou seja, se têm muitas citocinas, damos um medicamento para tentarmos reduzir as citocinas inflamatórias, como o etanercepte ou o infliximabe.

Esses são medicamentos para reduzirem as Interleucinas inflamatórias, as citocinas inflamatórias. São endovenosos, utilizados apenas em ambiente hospitalar ou em centros de infusão, e normalmente prescritos por médicos que trabalham com isso, como tipicamente, por exemplo, os reumatologistas. E são casos bem especiais em que acabamos utilizando esses medicamentos: quando temos a evidência de que está tendo a inflamação muito grande ou persistente da Covid.

Para reduzir a atividade excessiva do glutamato, do NMDA, já é possível realizarmos algo mais prático, basta utilizarmos o antagonista de NMDA, como a ketamina ou a cetamina, um medicamento que é utilizado tipicamente como anestésico – para fazer a indução anestésica para procedimento cirúrgico –, mas também ganhou evidência para tratamento de depressão.

Tem a versão endovenosa, que é utilizada em clínicas de infusão ou em hospitais, e a versão de spray nasal, que é a da escetamina ou da S-cetamina, que ainda não chegou no Brasil, mas já pode ser utilizada no exterior, e é para sintomas de depressão, apatia e para vários outros sintomas da Covid funciona bem.

Para redução da atividade inflamatória tecidual, como quando uma pessoa tem o TNF-alfa muito alto e a cascata inflamatória muito alta, como nos casos de dores, aumento de dor muito grande pós-Covid, especificamente, os anti-inflamatórios não esteroidais, como o etoricoxibe.

O etoricoxibe é um inibidor de COX-2, foi bem estudado e viu que não causa danos, não piora o risco cardíaco no pós-COVID ou até mesmo durante a Covid, e é o mais utilizado junto, por exemplo, com um anti-CGRP para tratar a enxaqueca e as dores de cabeça da Covid.

O anti-inflamatório não esteroidal e, às vezes, algum medicamento específico para dor específica, como no meu caso que acabo vendo muita enxaqueca pós-Covid, uso bastante o etoricoxibe e o medicamento anti-CGRP para modular a via de transformação do triptofano em quinurenina.

Logo, para diminuir o roubo do triptofano que deveria fazer serotonina e está produzindo outra molécula que só está fazendo mais inflamação, existe um antibiótico chamado minociclina – já foram feitos estudos dela em outras situações inflamatórias que acabam causando e prejudicando a depressão e a depleção de serotonina. Ela pode ajudar e acabar aumentando a produção de serotonina no corpo, inclusive no cérebro.

Para sintomas de fadiga, depressão, esquecimento, falta de atenção, entre outros específicos, também é possível utilizar uma terapêutica não medicamentosa, como tratamento com estimulação magnética transcraniana, que atua através de campos magnéticos no cérebro e que já é consagrada para tratamento dessas patologias, de sintomas de depressão, fibromialgia, problemas de esquecimento e falta de atenção.

E que acaba indo muito bem nos pacientes com esses sintomas no pós-Covid, justo porque o vírus não responde tão bem com uma gama de medicamentos e é uma terapêutica não medicamentosa que traz benefícios múltiplos e variados para o paciente, e praticamente sem efeitos colaterais.

E você que acompanhou esse artigo sobre as sequelas neurológicas da Covid, se conhece alguém que teve Covid ou tenha ficado pelo menos mais esquecido e possivelmente tenha tido Covid, envie o link desse conteúdo para essa pessoa, pois você pode estar ajudando-a a compreender melhor o que está acontecendo com ela.

Além disso, não é uma coisa necessariamente só psíquica, que a pessoa passou um medo, um trauma de ter tido Covid; às vezes, ela não teve nada desse trauma e ficou afetada biologicamente, de maneira que afetou o cérebro dela.

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