Memória Fraca – Como Diferenciar um Esquecimento Normal de uma Doença
Se você quer saber o que é um Esquecimento patológico ou quando um esquecimento fica fora do normal, fique até o final deste artigo que o Dr. Marcelo Canella, neurologista especialista em Memória, médico da Clínica Regenerati e também do Hospital Militar de Área de São Paulo, hospital do exército, e preceptor da Residência de Neurologia Cognitiva da Escola Paulista de Medicina, irá explicar sobre isso até o final do artigo.
Quando um Esquecimento Deixa de Ser Normal?
Nós estamos aqui hoje para abordar um pouco alguns tabus sobre a memória. Muitas pessoas, às vezes, me param, me perguntam, Dr. Marcelo – Marcelo para os mais íntimos – quando um esquecimento deixa de ser normal?
Sempre temos essa dúvida: quando e quanto será que a minha memória falha, e o quanto temos que realmente nos preocupar com isso?
Mas esquecer, afinal, é uma coisa boa ou uma coisa ruim? Eu vou contar uma história muito legal e interessante da literatura, que até talvez, no futuro, seja adaptada para o cinema.
Na Rússia, no início do século vinte, pelos anos de 1905, 1910, havia uma pessoa chamada Shereshevsky que, na verdade, era um repórter que se tornou um paciente de um neuropsicólogo russo muito famoso chamado Alexander Luria.
E qual era a peculiaridade dessa pessoa? Essa pessoa não esquecia. Ela tinha uma memória fotográfica: conseguia decorar nomes de listas telefônicas, por exemplo, lembrar com detalhes de coisas que tinham acontecido no dia a dia.
Só que, por incrível que pareça, o fato de lembrar tudo fazia com que essa pessoa não conseguisse funcionar muito bem no dia a dia. Por quê? Ela ficava se prendendo a detalhes tão ínfimos, coisas tão peculiares do seu dia a dia, que não conseguia funcionar. Às vezes, não conseguia encontrar sentido nas coisas.
Ela era capaz de ler um texto, sabia talvez decorar quantas vezes aparecia uma vogal; os acentos que estavam nas palavras; sabia até recitar o texto de forma meio que automática, mas muitas vezes não conseguia compreender o contexto.
Então, o que eu digo para vocês com isso, qual é a minha mensagem? Esquecer é normal. O esquecimento faz parte do nosso processo de vida. Se lembrássemos de tudo durante a vida, se realmente talvez conseguíssemos nos lembrar de muitas coisas, as coisas boas da vida, imagina a quantidade de coisas ruins que, às vezes, o nosso cérebro até faz um trauma, alguma coisa mais grave que passamos, o falecimento de um ente querido, vamos sofrer durante um período, mas não vamos ficar lembrando tudo a todo momento.
É lógico que existem situações que podem resgatar isso da nossa memória, que podem ser até uma coisa benéfica. Às vezes, você pega um álbum de família e começa a folhear, e vai se lembrar, talvez, do casamento do seu filho, de um ente querido, e de coisas que realmente não estavam afloradas na sua memória. Mas isso vai fazer o quê? Vai fazer um resgate da memória.
E a partir disso “entra o x da questão”: o importante da questão do esquecimento é sabermos o quê? O quanto eu esqueço está atrapalhando no meu dia a dia, eu estou esquecendo em demasiado; às vezes, para eu funcionar, para fazer as coisas, isso me atrapalha?
Precisamos nos lembrar de que na vida atual temos uma vida muito corrida, então, milhares, para quem mexe com redes sociais, Facebook, Twitter, Instagram, WhatsApp, às vezes tem que gerenciar isso tudo, inúmeros compromissos.
É lógico que a nossa velha e conhecida agenda – mesmo que seja eletrônica, não precisa ser uma agenda física –, fornece muitos benefícios. Por quê? A nossa memória é falha e ela é assim, porque tem que ser assim; não temos que lembrar de tudo. Por isso que, como seres humanos, ao longo da história, desenvolvemos recursos para que conseguíssemos anotar compromissos, as coisas mais importantes, seguirmos roteiros durante o dia.
Às vezes, esquecer, “nossa, esqueci a chave do carro em cima da minha mesa de trabalho”, é uma coisa; talvez teve um dia tumultuado, isso pode acontecer, é normal. É lógico, o que nos preocupa é se tais eventos se tornam recorrentes: se realmente, “poxa, toda hora eu esqueço onde coloco as coisas importantes que lido no dia a dia no trabalho”, “eu não sei onde guardo os documentos”, “toda hora meu chefe está brigando comigo”, “o meu gerente está aqui reclamando, olha, você perdeu de novo isso”.
Então, quando essas coisas começam a se tornar recorrentes, isso realmente preocupa. Esse é o momento de buscar o neurologista cognitivo. Por quê? Precisamos fazer o diagnóstico correto, saber o que está atrapalhando. Temos que saber que no funcionamento do nosso cérebro normal, várias coisas estão embutidas: qualidade de sono, boa alimentação, atividade física.
E lógico, precisamos afastar distúrbios orgânicos; hormônios, por exemplo, podemos ter problemas de tireoide, que podem causar queixas de memória.
E existem as doenças; logicamente, todos têm medo das doenças neurodegenerativas. O nosso alento é que as pesquisas, hoje, estão muito avançadas, talvez nos próximos 05 a 10 anos tenhamos medicações mais específicas para talvez conseguirmos frear realmente tais doenças.
Mas sabemos hoje que se conseguimos detectar esse risco aumentado da pessoa ter uma Doença de Alzheimer, por exemplo, conseguimos trabalhar. Se ela chega no momento propício, conseguimos, às vezes, evitar que essa doença se estabeleça, que ela se instale nos próximos anos. Então, conseguimos fazer um trabalho muito bom nesse sentido. Fazendo o quê? Fazendo as modificações do estilo de vida, algumas medicações que forem necessárias.
E temos que saber também que para questões da memória, não é só Alzheimer, por exemplo, que causa perda de memória; existem inúmeras outras doenças. É lógico que sempre falamos Doença de Alzheimer, talvez seja a mais conhecida.
Qual é o Parâmetro de Memória Saudável?
Também, às vezes, as pessoas perguntam: mas o que podemos tirar de parâmetro para uma memória saudável, uma boa memória? Temos que saber dentro do seu dia a dia; é lógico que não vamos fazer questão de memorizar coisas que não sejam importantes para nós.
Vamos dar um exemplo: um crítico de cinema; se ele começa a esquecer, talvez, nomes de diretores, de atores de filmes, isso, para ele, vai ser impactante. Então, temos que saber a questão da queixa de memória dentro do perfil de cada pessoa. Por isso é importante essa abordagem personalizada.
Para um crítico de cinema isso era importante, mas talvez para mim, para você, para quem gosta de curtir só um cinema no fim de semana – sabemos que infelizmente agora, em época de pandemia, os cinemas estão fechados, mas talvez vendo um filme em casa, no streaming, na TV a cabo –, se esquecemos de repente, “nossa, aquele filme daquele ano” e realmente não lembramos naquele momento, isso não vai trazer nenhum impacto profissional ou até mesmo do ponto de vista pessoal.
Mas lógico, se a pessoa começa a esquecer de coisas que no seu âmbito familiar ou profissional começam a causar problemas, talvez o aniversário do cônjuge, uma data importante, familiar, o aniversário de um filho, do pai, da mãe – não que não podemos esquecer, acontece.
Às vezes, você está em um mês atribulado, em uma semana atribulada, aconteceu uma tragédia na sua vida, não que não seja importante, mas perdeu um pouco o foco, porque aconteceram coisas que te tiraram do eixo. Então, se estamos fora do nosso eixo normal de funcionamento por alguma coisa que gerou um fator estressante muito grande, temos que levar em consideração.
Logo, temos que tentar voltar ao normal, por isso a ajuda do profissional especializado é importante. E depois de trazer o paciente para o seu eixo, avaliar: será que existe realmente uma questão de memória subjacente ou alguma coisa que esteja ali profundamente, que às vezes não está conseguindo ser descoberto até pelas pessoas da casa?
Importante também é o quê? A observação dos colegas de trabalho ou da própria família. Se a família começa a falar muito ou alguém do trabalho “poxa, fulano, nossa você está muito esquecido”, “olha, você está mais esquecido do que o normal”, “pô, toda hora você está esquecendo isso”, então é uma coisa que temos que levar em consideração.
Se temos uma pessoa que convive conosco já há um bom tempo, já tem um bom tempo de relação tanto profissional quanto pessoal, e se ela realmente nota uma mudança, isso é muito importante. Então, esse relato realmente tem que ser valorizado.
Quando Procurar o Médico?
E quando alguém teria que procurar um profissional de saúde para realmente fazer uma consulta, saber realmente se a memória está ruim? Resumindo o que eu falei anteriormente, nós olhamos isso: se a queixa de memória começa a atrapalhar o seu funcionamento, você vê que começa a perder compromissos.
Às vezes, tem uma prova importante na faculdade ou um concurso, e você perdeu porque esqueceu a data ou se atrapalhou na hora de se organizar e não achava a chave do carro, por exemplo, era uma coisa importante, então essa desorganização, pode até parecer uma desorganização, mas às vezes é porque você não soube onde colocou as coisas adequadamente. Então, a questão de organizar a vida da pessoa e tentar estudar se há algo subjacente causando o problema, é importante o profissional estar atuando.
Logo, se começa a atrapalhar, você vê que está perdendo oportunidade na sua vida e não está conseguindo até no campo pessoal mesmo; imagina: você esqueceu o aniversário do seu esposo ou uma data importante, esqueceu de pegar o filho na escola, por exemplo – não que não aconteça eventualmente, pode acontecer dentro do contexto.
Mas se é uma coisa recorrente, isso vai trazer malefícios, problemas dentro de casa, discussão, a criança vai ficar horas às vezes aguardando. E logicamente, hoje em dia, nos preocupamos com a segurança das pessoas.
Então, se está acontecendo isso na sua vida, realmente é muito importante procurar um profissional especializado na parte de neurologia cognitiva. Falamos neurologia cognitiva e nos lembramos de conhecimento.
E quando falamos neurologista cognitivo, é justamente o médico especializado nos processos cognitivos, que seria o quê? Memória, aprendizado, percepção do ambiente, as partes de comportamento e de adequação social, sistemas que podem ser tratados mais à frente – podemos abordá-los em próximos artigos, hoje o foco seria falar mais da memória.
Mas, inicialmente, resumindo então para encerrarmos, o que é importante? Sabermos que esquecer é normal até determinado ponto: desde que o esquecimento seja uma coisa que não atrapalhe no seu dia a dia. Se ele começa a comprometer as suas atividades, realmente é hora de procurar um profissional especializado.
Então, aqui é o Dr. Marcelo Canella, neurologista, eu gostaria de agradecer a presença de vocês e estamos aqui prontos para ajudar quem apresentar tais problemas. E gostaria de falar para quem estiver lendo o artigo, para clicar no “curtir” se realmente gostou do conteúdo.
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