Dores Lombares – O Que Pode Causar a Dor Lombar
Se você tem dor na região lombar e só vem o diagnóstico de hérnia, e já está cansado de pensar que é só isso e quer saber dos possíveis diagnósticos outros que podem ter para as dores lombares, fique até o final deste artigo que o Dr. André Ramos, reumatologista da Clínica Regenerati e do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo, vai falar sobre isso.
O que São Dores Lombares?
Hoje, vamos falar um pouco sobre uma queixa que é extremamente frequente na população que é a dor na região lombar, a lombalgia.
A primeira coisa que eu queria passar com esse conteúdo é com relação à ideia que a maioria das pessoas têm sobre a coluna: pensam que ela é apenas a parte esquelética, o osso. Isso é um grande erro; na maioria das vezes, os ossos vão ter alterações, mas que não correspondem a causa da dor.
Além dos ossos, das vértebras da coluna, existem os discos que fazem a ligação entre essas vértebras da coluna. Além disso, temos os ligamentos, que se ligam tanto aos músculos quanto aos ossos, aos discos, e por fim os músculos.
De todas essas estruturas, o que podemos mexer de forma mais direta, com os nossos comportamentos, o exercício físico, é com a musculatura da coluna, e por isso que é muito importante entendermos a função desses músculos e que eles são os principais estabilizadores da coluna e previnem com que haja lesões das outras estruturas, tanto dos ossos quanto dos discos, dos ligamentos.
E qualquer uma dessas estruturas pode eventualmente doer, o osso, o disco pode causar dor, os ligamentos também – apesar de menos comumente, também podem causar dor – e por fim até a própria musculatura da coluna pode causar dor.
Importância dos Exames de Imagem
Outra ideia muito frequente que se tem acerca da dor na coluna é com relação a importância dos exames de imagem. Eles são importantes, mas não são diagnósticos, ou seja, não vou pedir um exame de imagem sem antes avaliar bem a possível causa dessa dor lombar. Por quê? Ao longo da vida, inevitavelmente, nós vamos acumular alterações na coluna que não necessariamente são a causa da dor.
E a maioria das pessoas sempre fala para nós no consultório o seguinte: “ah, eu tenho um monte de bico de papagaio, artrose na coluna, uma hérnia na coluna ou várias protusões discais na coluna, que foi vista, por exemplo, na tomografia, no Raio-X, na ressonância”, mas, na maioria das vezes, essas alterações não são a causa da dor, então, isso é normal e esperado que aconteça ao longo da vida.
Muitas das vezes podemos ver pessoas que têm a coluna extremamente torta, uma alteração muito importante na curvatura da coluna e nem por isso necessariamente vão ter dor, ao contrário.
Tem pessoas que você pode olhar para o Raio-X, aparentemente está completamente normal e elas podem estar queixando de dor, por isso, é muito importante, antes de tudo, entendermos como é que a dor se manifesta.
Ao se avaliar essa dor, vamos poder então olhar para aqueles exames que vamos solicitar e, a partir disso, realmente fazer o diagnóstico mais acertado, e, portanto, tratar de uma forma mais adequada.
Uma Dor nas Costas Pode ser Considerada Crônica em Quanto Tempo?
Eu queria também pontuar outra questão: quando você realmente deve ficar preocupado com a dor na coluna e quando não deve ficar tão preocupado assim. A maioria das dores de coluna são o que chamamos de agudas, ou seja, você não sentia antes, hoje pode amanhecer ou, ao longo do dia, pode desenvolver uma dor na coluna.
Geralmente, essas dores nas colunas demoram poucos dias, então 03 dias, uma semana. Consideramos que com uma duração de três semanas podemos ter uma dor na coluna que chamamos de aguda. E, na maioria das vezes, se a pessoa não sente dor antes, essa dor na coluna vai embora e não vai deixar nenhum tipo de sequela.
Então, a princípio, não se deve ficar preocupado com esse tipo de dor. A partir de 03 semanas até 03 meses, essa dor na coluna já fica o que chamamos de subaguda, ou seja, é uma dor na coluna que provavelmente deve ter algum processo que está fazendo com que se perpetue.
Apesar ainda de ser algo que incomoda bastante, pode tirar a qualidade de vida nesse meio tempo, na maioria das vezes também vai se resolver até o período de 03 meses, mas nesses casos é importante já ficar de olho e, possivelmente, procurar um médico para poder ter uma avaliação mais adequada. Dores acima de 03 meses já são consideradas crônicas, que, necessariamente, precisam de uma avaliação médica.
A Dor Lombar é Mais Comum em Pessoas de Qual Faixa Etária?
Além dessa questão do tempo, outra coisa bastante importante é avaliarmos com relação à idade em que essa dor na coluna acontece. A idade abaixo dos 45 anos é pouco comum de você ter dor crônica. Então, pessoas que têm dor na coluna com menos de 45 anos e que é por mais de 03 meses devem necessariamente ser investigadas.
Ou seja, deve ter uma avaliação médica e fazer exames para poder realmente ver se essa dor na coluna não pode ser decorrente de uma doença, principalmente as inflamatórias, que são as principais doenças que acometem e causam dor abaixo dos 45 anos e de forma crônica.
Acima dos 45 e por mais de 03 meses, a maioria das dores lombares são decorrentes do que chamamos de lombalgia mecânica crônica, ou seja, elas são decorrentes de um desbalanço, um desequilíbrio da estrutura óssea, dos discos da coluna, dos ligamentos e dos músculos.
Então, esse desbalanço, ou seja, o músculo pode estar fraco; inflamado; tenso; o ligamento pode estar sobrecarregado; o osso, por conta de, às vezes, um desgaste de artrose pode fazer com que o disco possa ficar mais achatado e isso vai fazer com que haja uma sobrecarga da musculatura que começa a ficar mais tensa, ou seja, vira, digamos assim, um círculo vicioso que vai fazendo com que essa dor se propague ao longo do tempo.
E uma vez essa dor se prolongando ao longo do tempo, vamos ter todas aquelas consequências com relação à dor crônica, que o nervo começa a produzir dor mesmo que não tenha um quadro de agressão, a medula espinhal vai começar a ter uma resposta inadequada, a pessoa vai ter uma percepção alterada da dor e tudo isso vai fazer com que essa dor na coluna se torne crônica e seja mais difícil de tratar.
Mas, na maioria das vezes, não existe uma causa específica que se modifique de forma anatômica, ou seja, você não vai fazer, por exemplo, uma cirurgia alterando aquela região e isso não necessariamente vai fazer com que haja a cura definitiva da dor.
Geralmente, o tratamento vai ser clínico, ou seja, vai necessitar de várias coisas, dentre elas, principalmente: perda de peso, exercícios de fortalecimento, por vezes até uso de medicações.
Mas, o que eu queria deixar claro é com relação principalmente a essa diferenciação: em pessoas de mais idade, a maioria das vezes é por conta desse tipo de problema mecânico, crônico; e abaixo dos 45 anos já se preocupa um pouquinho mais, principalmente para avaliarmos doenças inflamatórias.
Como Diagnosticar a Dor Lombar?
Além da questão da idade do paciente, temos que avaliar outras que chamamos de bandeiras vermelhas, red flags, da dor na coluna, então se você tiver uma dor na coluna nova e começar a apresentar febre, ou teve uma queda e eventualmente pode ter batido alguma parte do corpo e depois disso começou a desencadear dor.
Ou, por exemplo, tem dor na coluna e de repente começa a perceber que a perna está fraca, corre para o Pronto Atendimento para ser avaliado, porque, geralmente isso está associado com causas mais graves e é muito importante ter uma avaliação rápida e o início do tratamento também ser rápido.
Fora essas situações, como eu falei, se tiver uma dor que é principalmente a partir de 03 semanas, realmente é importante procurar o médico que possa avaliar e o principal médico que vê a queixa dolorosa no contexto clínico que chamamos, ou seja, daqueles contextos que não precisam se realizar cirurgia, é o reumatologista.
Como Reconhecer as Diferentes Doenças Relacionadas à Lombalgia?
E vamos começar a investigar um pouco melhor como é essa dor lombar. Por exemplo, uma das principais características que avaliamos é com relação ao horário dessa dor.
Se é uma dor que é mais forte na parte da manhã, por exemplo, isso, para nós, pode indicar uma hérnia de disco – o disco se rompe, pode fazer compressão de um nervo – e isso pode causar dor lombar, inclusive com irradiação ou dormência para as pernas.
Ou se é uma dor que é pior no final da tarde, à noite, geralmente está associada mais, por exemplo, com o que chamamos de síndrome do canal estreito ou canal da coluna estreita. Então, também vai fazer com que haja, digamos assim, uma dificuldade ou pelo menos uma compressão dos nervos ao levarem os sinais nervosos, por exemplo, para as pernas.
E outra coisa, quando você tem uma dor que é pior no meio da madrugada, isso também é um sintoma de alerta, porque geralmente dores que chegam a acordar a pessoa no meio da madrugada são causas inflamatórias, principalmente, por exemplo, a espondilite anquilosante ou inclusive tumores. Logo, é bem importante você ter essa noção de qual horário é que a sua dor é maior.
Além disso, a posição: se você está em uma posição em pé ou sentada durante muito tempo, e essa dor piora, geralmente está associada com, por exemplo, uma compressão de algum nervo da coluna; se é uma dor que melhora quando você se deita, isso pode indicar que realmente seja uma hérnia de disco e você tira aquela compressão deitando, e acaba fazendo com que essa dor melhore.
Outra característica que avaliamos muito é com relação ao movimento. Dores que pioram, por exemplo, com o andar, deambular, caminhar, são mais características de artrose da coluna ou uma dor mais mecânico-degenerativa, então ficamos mais olhando esses possíveis tipos de etiologia.
Ou, por exemplo, se é uma dor que melhora com exercício, logo isso provavelmente vai fazer com que pensemos mais em doenças inflamatórias, porque quando você faz exercício, se movimenta, desinflama, e faz com que, digamos assim, a dor também melhore.
Outra coisa que avaliamos bastante é com relação à irradiação. Como já abordamos, a dor que vai irradiar para o bumbum ou para as coxas, para a panturrilha ou vai só para uma perna ou para a outra, temos que pensar principalmente nas dores relacionadas às compressões nervosas.
Então, síndrome do canal estreito, quando, por exemplo, você tem uma dor que é mais localizada bilateralmente, ou seja, dos dois lados, quando tem uma dormência que vai se irradiar, ou uma dor que se irradia para uma das pernas, pensamos mais em uma compressão de raiz nervosa, por exemplo, por uma hérnia de disco.
E, além disso, também temos que lembrar com relação ao estresse, tanto físico quanto mental. Todo tipo de estresse físico, estresse mental, vai piorar qualquer dor, mas as dores que mais pioram com os estresses físico e mental são aquelas decorrentes de alterações mecânicas, degenerativas, como artrose da coluna, achatamento dos discos, por exemplo, contraturas da musculatura.
Uma das dores que tem uma piora mais significativa com relação a esse estresse físico ou mental são as chamadas síndromes miofasciais, com pontos de gatilhos da coluna, então esses são pontos da musculatura, que chamamos de paravertebral, que são ao redor, digamos assim, da coluna, ou aquelas musculaturas que dão sustentação para a coluna.
Aqueles músculos se tencionam de forma muito mais significativa e vão fazer com que haja uma compressão dos nervos que passam por aquela musculatura gerando inflamação e um ciclo vicioso de piora dessa dor. E, às vezes, isso pode se prolongar, inclusive por meses, então é bastante importante ficarmos de olho com relação a esse tipo de situação.
Conclusão
Como eu falei, é muito importante entendermos que ao longo da vida vamos acumulando uma série de alterações na coluna que não necessariamente vão causar dor.
É fundamental mantermos principalmente a musculatura da coluna bem fortalecida, termos uma boa postura e, para isso, precisamos ter uma musculatura bem fortalecida para evitar que os danos na coluna, que inevitavelmente vão acontecer, sejam mínimos possíveis e não tenhamos esse acúmulo de alterações na coluna, que podem eventualmente levar a dor.
Então, é bastante importante o fortalecimento do abdômen, da coluna; se sentar de forma adequada; caminhar de forma adequada; o uso adequado de sapatos, de sandália; e termos esse cuidado ao longo da vida para evitarmos a dor na coluna.
E, além disso, sabermos que as alterações que são achadas nos exames de imagem nem sempre correspondem à causa da dor e sabermos caracterizar muito bem essas dores na coluna para que possamos então fazer um diagnóstico correto e um tratamento adequado.
Na maioria das vezes, as dores na coluna são tratadas de forma clínica, ou seja, basicamente com fortalecimento muscular, uso de medicações que podem ser de forma curta ou, às vezes, a longo prazo.
E principalmente, com medidas de conscientização, ou seja, se entender e se conhecer e conhecer o próprio corpo para que se evite, digamos assim, de essa dor ficar mais crônica e ser mais difícil de ser tratada; então é muito importante esse autoconhecimento.
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