A avaliação neuropsicológica é um método utilizado para investigar e descrever a relação entre o cérebro (estrutura) e o comportamento (função). Assim sendo, envolve a interpretação de dados obtidos em entrevistas com o paciente e/ou familiar, nas anotações médicas e nos resultados de desempenho nos testes neuropsicológicos.

Portanto, se trata de um exame que mede e explica o desempenho cognitivo com base nas possíveis alterações cognitivas que por ventura venham a ser causadas por desordens neurológicas ou outros transtornos – podendo ser identificadas de forma precoce.

Dessa forma, a avaliação neuropsicológica é realizada para análise prévia do processo terapêutico a ser adotado ou como um meio de acompanhar o paciente em questão para proporcionar-lhe as melhores abordagens possíveis.

avaliação neuropsicológica

O que é a Avaliação Neuropsicológica?

Primeiramente, é válido esclarecer que a neuropsicologia é uma área conjunta da Neurologia com a Psicologia, portanto se trata de uma ciência que estuda as relações existentes entre cognição, comportamento e disfunções cerebrais.

A disciplina independente surgiu em meados da década de 40 e logo se desenvolveu devido aos avanços nos conhecimentos sobre o funcionamento do cérebro e da psicometria, que é uma especialidade da Psicologia voltada para elaboração de testes e avaliações de desempenho cognitivo através de procedimentos padronizados e adaptados para população da qual faz parte o indivíduo em avaliação.

Assim como também foi beneficiada pelos avanços tecnológicos do último século, principalmente envolvendo o desenvolvimento de novas técnicas de observação cerebral, tais como os exames de ressonância magnética e tomografia computadorizada e por emissão de pósitrons.

Logo, a avaliação neuropsicológica é semelhante a um teste ergométrico cerebral, em que é avaliado o desempenho de diversas funções neurológicas que o cérebro possui, como a atenção e concentração para execução de tarefas; os tipos de memória e mecanismos envolvidos; funções executivas (incluindo capacidade inibitória, flexibilidade mental, abstração, precisão de raciocínio, planejamento, elaboração de estratégias e outras), percepção visuo-espacial, aprendizagem, velocidade para processar informações e áreas da linguagem.

Além das funções cognitivas acima citadas, a avaliação pode também envolver a análise de traços de personalidade, sintomas de ansiedade ou depressão, entre outros parâmetros que variam de acordo com a necessidade de cada indivíduo a ser avaliado.

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Para que a Avaliação é Realizada?

Esse tipo de exame é capaz de identificar possíveis alterações no desempenho cognitivo do paciente por meio da comparação dos resultados obtidos com os dados normatizados de uma população geral com as mesmas características de gênero, idade e/ou grau de escolaridade, ou com a conclusão da análise de testes que precise realizar futuramente.

E o especialista consegue ainda avaliar habilidades perceptivas, motoras e acadêmicas; comportamento; capacidades de resolução de problemas, humor, atenção, planejamento e organização; perda de memória e déficit de raciocínio.

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Indicações de Avaliação Neuropsicológica

Geralmente, esse tipo de avaliação é realizado para auxiliar no diagnóstico de:

  • Doenças neurodegenerativas;
  • TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade);
  • Transtornos de aprendizagem, como Dislexia;
  • Autismo (Transtorno do Espectro Autista – TEA);
  • Comprometimento cognitivo leve (CCL);
  • Transtorno Global do Desenvolvimento;
  • Atraso no desenvolvimento cognitivo;
  • Traumas Crânio-Encefálicos (TCE);
  • Diversos tipos de demência (Doença de Alzheimer, Vascular, Frontotemporal);
  • Transtornos cognitivos em doenças evolutivas (epilepsia e esclerose múltipla).

Do mesmo modo, pode ser utilizado como parâmetro para ajudar a guiar; definir a possibilidade de realizar cirurgias para epilepsia e implante de DBS na Doença de Parkinson; e mapear os possíveis comprometimentos cognitivos após um episódio de AVC (acidente vascular cerebral).

Além disso, também ajuda a definir um plano terapêutico de tratamento para a reabilitação cognitiva em pessoas que sofreram danos neurológicos, como é o caso dos sobreviventes de AVC, traumatismos cranianos, pacientes com comprometimento cognitivo leve ou distúrbio psiquiátrico que pode cursar com alterações cognitivas.

Em outras situações, serve como rastreio global do funcionamento geral do cérebro por meio de um check-up neurológico no qual as performances obtidas são comparadas periodicamente.

A avaliação neuropsicológica também pode diferenciar uma síndrome psicológica de uma neurológica; monitorar a recuperação cognitiva ou evolução de uma desordem neurológica; avaliar o funcionamento cognitivo para indicar a melhor reabilitação ou as estratégias mais indicadas para proporcionar melhorias às queixas apresentadas.

Através de seus resultados, é possível se realizar a orientação de familiares e/ou responsáveis sobre a melhor maneira de ajudar o paciente, e esclarecer questões envolvendo as capacitações da pessoa para que possa viver de forma independente e indicando qual a terapia mais apropriada em cada situação.

Avaliação Neuropsicológica no TDAH

A avaliação neuropsicológica é indicada para os casos de TDAH após análise dos resultados de outros exames realizados com o intuito de diagnosticar o caso. Isso porque pode haver diferentes resultados em cada uma das entrevistas clínicas realizadas, provocados pela aplicação de diversos métodos em cada pesquisa.

Caso fique combinado que o exame deve ser realizado, ele pode auxiliar no diagnóstico da condição; na escolha da melhor estratégia terapêutica; indicar quais podem ser as origens dos sintomas e se há presença de comorbidades relacionadas e necessidade de um tratamento.

Diante disso, dentre os testes disponíveis no Brasil, o WISC-III (Escala Wechsler de Inteligência para Crianças) é o que tem se destacado por oferecer uma quantidade satisfatória de informações capazes de ajudar no diagnóstico do TDAH por indicar a existência do transtorno, mas não pode ser usado como único exame para confirmar a condição médica.

Outras pesquisas utilizadas são o WCST (Teste Wisconsin de Classificação de Cartas), em que a criança demonstra prejuízo relacionado à função pré-frontal; e o Stroop Test, que proporciona análises da atenção e da função executiva.

Avaliação Neuropsicológica no Autismo (Transtorno do Espectro Autista)

Diante dos casos de Transtorno do Espectro Autista (TEA) – comumente conhecido como autismo –, a avaliação neuropsicológica é indicada como uma maneira de analisar as funções executivas (capacidade de desenvolvimento e planejamento de estratégias para alcançar objetivos). Além disso, também avalia a existência de lesões e disfunções cerebrais, detalhando-as se for o caso, com o intuito de auxiliar no diagnóstico final.

Assim como os resultados auxiliam na elaboração de estratégias de intervenção e tratamento da condição para proporcionar melhor qualidade de vida e mais independência ao paciente, como reabilitação neuropsicológica.
Entre os recursos disponíveis para aplicação desse tipo de exame para identificar casos positivos de pessoas com Transtorno do Espectro Autista destacam-se:

  • CARS (Childhood Autism Rating Scale ou Escala de Avaliação de Autismo na Infância): são avaliados os comportamentos da pessoa durante a avaliação neuropsicológica e conforme as informações coletadas de entrevistas feitas com os pais ou responsáveis;
  • SGS-II (Schedule of Growing Skills ou Escala de Avaliação das Competências no Desenvolvimento Infantil): aplicada em crianças de 0 a 05 anos de idade;
  • PDDBI (Pervasive Developmental Disorder Behavior Inventory ou Inventário Comportamental dos Transtornos Invasivos do Desenvolvimento): é realizado um questionário com os familiares e/ou professores;
  • Escala Bayley (ou Escala de Desenvolvimento Infantil de Bayley): as três escalas avaliam questões motoras, mentais e comportamentais de crianças com até três anos e seis meses;
  • ADI-R (Autism Diagnostic Interview – Revised ou Entrevista Diagnóstica para Autismo Revisada): é aplicado em crianças (acima dos cinco anos de idade) e adultos com idade mental a partir dos dois anos;
  • ICA (Inventário de Comportamentos Autísticos) ou ABC (Autism Behavior Checklist): lista de 57 comportamentos mais habituais que se enquadram como sintomas de TEA;
  • ADOS (Autism Diagnostic Observation Schedule ou Observação Diagnóstica Programática para Autismo): é dividido em quatro sessões ou módulos com 30 minutos de duração;
  • EDMG (Escala de Desenvolvimento Mental de Griffiths): analisa as áreas de aprendizado, linguagem, comunicação e coordenação olho-mão, pessoal-social-emocional e motora grossa;
  • Currículo de Carolina: aplicado em crianças com até três anos;
  • PEP-R (Perfil Psicoeducacional Revisado): responsável por medir a idade de desenvolvimento das crianças com autismo;
  • WCST (Wisconsin Card Sorting Test ou Teste Wisconsin de Classificação de Cartas): subteste Cubos das escalas de Wechsler, em que há classificação de imagens para reunir dados fracionados com o intuito de formar o todo;
  • NEPSY-II: subtestes de reconhecimento de emoções nos rostos de crianças de 03 a 16 anos;
  • Teste de Compreensão Emocional: indicado para crianças que tenham entre três e seis anos de idade.

Avaliação Neuropsicológica nas Demências

A avaliação neuropsicológica adequada às demências ajuda a traçar o perfil cognitivo (base transversal e longitudinal), principalmente dos pacientes com Doença de Alzheimer, por detalhar os limites do envelhecimento patológico e normal.

Portanto, o intuito da aplicação desse exame é verificar o nível de funcionalidade do paciente, que inclusive é uma das bases do diagnóstico de um quadro de demência. Com isso, o especialista em Neuropsicologia consegue identificar quais tarefas do cotidiano não são realizadas com tanta facilidade e como isso impacta na vida da pessoa avaliada.

Avaliação Neuropsicológica nos Esquecimentos

Nos casos de esquecimentos e memória, a avaliação neuropsicológica não consegue indicar um diagnóstico com exatidão, mas aponta quais são as possíveis causas para a condição apresentada pelo paciente e auxilia na detecção do quadro que demanda um suporte multiprofissional.

Avaliação Neuropsicológica no AVC

Devido às sequelas proporcionadas pelo AVC (acidente vascular cerebral), que ocorre quando os vasos responsáveis por transportar sangue ao cérebro entopem ou se rompem, causando paralisia na área afetada, a avaliação neuropsicológica é requisitada com o intuito de determinar o quanto essas lesões estão prejudicando o paciente de um modo geral.

Sem contar que o exame indicado nos casos de pós-AVC aponta as doenças comuns em pacientes subagudos e crônicos relacionadas a déficits no funcionamento executivo, atenção, velocidade de processamento da mente, percepção visual e capacidade de construção.

Avaliação Neuropsicológica na Esclerose Múltipla

Os testes mais utilizados para estudar a velocidade de processamento dos pacientes com EM (Esclerose Múltipla) são:

  • PASAT (Paced Auditory Serial Addition Test ou Teste Auditivo Compassado de Adição Seriada): analisa a audição, flexibilidade mental e habilidade para efetuar cálculos;
  • SDMT (Symbol Digit Modalities Test): responsável por avaliar a atenção visual e velocidade de processamento;
  • RAVLT (Rey Auditory Verbal Learning Test ou Teste da Aprendizagem Auditivo-Verbal de Rey): detecta déficits de memória e diferencia-os conforme os tipos existentes;
  • Figura Complexa de Rey: voltado para organização perceptiva e memória visual, logo, avalia planejamento, organização e estratégia para solucionar problemas, e funções motoras, perceptivas e de memória episódica;
  • Teste de Cancelamento dos Sinos (Bells Cancellation Test): exame de percepção visual que analisa se há perda de atenção;
  • TMT (Trail Making Test ou Teste de Trilhas): monitora questões visuo-motoras, e mede atenção e flexibilidade cognitiva;
  • BNT (Boston Naming Test ou Teste de Nomeação de Boston): exame de linguagem responsável por avaliar a capacidade de o paciente nomear as coisas que vê;
  • Teste de Stroop: indicado para analisar o controle cognitivo com o intuito de saber se há capacidade de manter um objetivo, suprimir uma resposta automática a um estímulo, priorizando uma que não faça parte do cotidiano da pessoa que está sendo avaliada;
  • Teste Span de Dígitos: aplicado na ordem direta e/ou inversa para avaliação da capacidade de armazenamento da memória de curto prazo;
  • Teste de fluência verbal: analisa a capacidade de armazenamento da memória semântica, da capacidade de recuperar a informação guardada e do processamento de funções executivas;
  • 9 HTP (9-Hole Peg Test ou teste dos 9 pinos nos buracos): uma escala desenvolvida pela Sociedade Americana de Esclerose Múltipla que mede quantitativamente a função das extremidades dos membros superiores do paciente.

Avaliação Neuropsicológica na Doença de Parkinson

Nessas condições, a avaliação neuropsicológica é voltada para análise das funções executivas e são aplicados diversos testes não habituais para que seja possível mapear as competências cognitivas comportamentais dos pacientes com Doença de Parkinson (DP), que envolvem raciocínio verbal; resolução de problemas; planejamento; sequenciamento; capacidade de manter a atenção, lidar com o novo e resistir às interferências, por exemplo.

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Forma de Realizar o Procedimento

A bateria de entrevistas e testes neuropsicológicos é organizada de acordo com o objetivo da avaliação, a faixa etária, o perfil da pessoa, entre outros fatores, e o período da sua aplicação varia de um indivíduo para o outro. Isso porque envolve diversas funções cognitivas e o procedimento necessita de várias sessões, que são combinadas entre o paciente e o especialista em Neuropsicologia que está aplicando a avaliação neuropsicológica.

Em seguida, o profissional faz perguntas ao paciente, aos familiares e às outras pessoas que conviveram com ele para conhecer a personagem de estudo, seu histórico de saúde e rotina. O próximo passo é aplicar testes e técnicas com o intuito de verificar as condições neuropsicológicas e funções executivas para identificar a origem, causa e o desenvolvimento de alguma condição médica. E por fim, é emitido um relatório com o resultado das análises das habilidades e dificuldades.

E por causa da diversidade humana, é possível realizar o teste da avaliação neuropsicológica de forma escrita, interativa, audível ou de qualquer outro modo que se enquadre melhor ao perfil do paciente. Portanto, podem variar em avaliação:

  • Cognitiva feita a partir de testes normatizados;
  • das funções executivas e da cognição social;
  • das funções visuo-espaciais.

Procedimento realizado por Vilma Borba Leandro Ferreira Jardim

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Página Publicada em: 20 de abril de 2020 e Atualizada em: 22 de novembro de 2022