Doença de Parkinson e Outros Tremores no Idoso
Se você quer saber sobre Doença de Parkinson e Outros Tremores no Idoso, fique até o final deste artigo que o Dr. Willian Rezende do Carmo, médico neurologista, fundador da Clínica Regenerati e que no seu canal do YouTube fala sobre Dor, Sono, Parkinson, Emoções e Neurologia como um todo, vai abordar sobre isso.
Hoje, vamos explicar sobre a Doença de Parkinson e várias coisas sobre ela, desde a sua definição, os seus principais sintomas e classificações, as causas, os diagnósticos, a epidemiologia, o tratamento e os sinais de alerta para outros tremores e doenças.
Definição da Doença de Parkinson
Vamos começar com as definições, o que é a Doença de Parkinson. A Doença de Parkinson é uma patologia neurológica, degenerativa, progressiva, causada pela proteína chamada alfa-sinucleína que está alterada no corpo e leva à perda de neurônios dopaminérgicos.
Nessa perda progressiva de neurônios que produzem a dopamina, uma gama de sintomas é produzida, das quais a principal delas é a lentificação; também tem a rigidez e o tremor de repouso, que é o tremor parkinsoniano. A doença foi descrita por James Parkinson, um médico, inglês, em 1817, como a doença de paralisia tremulante, que as pessoas ficam paralisadas e tremendo.
A Doença de Parkinson é muito comum e muito confundida com a Doença de Alzheimer, mas não são iguais; apesar de serem mais comuns com a idade, são totalmente diferentes.
A Doença de Parkinson é uma doença fundamentalmente motora, que afeta a parte motora dos movimentos, ele fica mais lento, duro, trêmulo, e não afeta a cognição, a memória. E na sua grande maior parte, pode afetar só na parte avançada, na parte finalzinha da doença.
E a Doença de Alzheimer já é uma doença que afeta a cognição e a memória desde o início, ou seja, logo que a pessoa começa a ter o diagnóstico de Alzheimer já tem a perda de memória e o problema de entendimento e raciocínio.
Então, apesar de a Doença de Parkinson ser degenerativa e progressiva, causada pela alfa-sinucleína alterada e que leva à perda dos neurônios dopaminérgicos – e isso que faz a pessoa ficar toda lenta, dura e trêmula –, é uma doença de progressão lenta e que afeta fundamentalmente aspectos motores, os movimentos da pessoa, e isso é o mais importante.
Sintomas
Bradicinesia
A doença parkinsoniana é definida fundamentalmente pela bradicinesia, que é uma lentificação dos movimentos do corpo, especialmente de um lado em relação ao outro.
Por exemplo, avaliamos isso através da batida de dedos, como de um lado vai ficando mais lento, curtinho o movimento, com pausas, não indo da mesma maneira, enquanto do outro, ele bate amplo, rápido e normal. Da mesma forma, a abertura e o fechar das mãos: uma vai abrindo mais contido, intermitente, não tão rápido; a outra abre totalmente rápido.
Outra forma de avaliar isso é através do movimento alternado. Em uma mão, vai fazendo o movimento com dificuldade de produzir o movimento alternado e na outra, faz o movimento alternado normal. Outra maneira é do tchau: um, vai dando um tchau como se ficasse travado e devagarzinho, na outra, totalmente solta.
E a outra forma é a batida de dedos alternada: quando a pessoa está mais lenta, vai fazendo isso em uma velocidade, tendo várias interrupções, dificuldades e pula; enquanto na outra mão que fica bem, ela bate normalmente.
Também é possível avaliar a bradicinesia com a batida dos pés, em que pedimos a pessoa para bater os pés, por exemplo, do lado direito, fica uma batida fraca, curta, com uma cadência não tão boa; do outro lado, bate bem, rápido e forte.
Tremor de Repouso
Uma forma de avaliar o tremor de repouso é pedindo a pessoa para ficar sentada, por exemplo, com as mãos em repouso, de olho fechado, e contar de 30 para trás, em voz alta; quando está contando 30, 29… começa a, sem ver, dar aquele tremorzinho tipicamente do polegar e é bem sutil, muitas vezes é bem sutil mesmo.
Ou quando ela está sustentando a mão por mais tempo, depois de alguns segundos, começa a ter um tremorzinho de um dedo ou outro, muitas vezes fazendo um movimento látero-lateral.
E, muitas vezes, o paciente parkinsoniano, quando vai fazer movimentos de pegar coisas, o movimento está suave, não treme, porque o tremor do paciente parkinsoniano vem quando está em repouso.
Ou depois de algum tempo dele estar segurando o celular, começa a tremer, porque ele está querendo usar a mão para fazer uma coisa e a outra está segurando o celular, então ela treme, mas não de início, mas para fazer um movimento enquanto está em movimento, é comum de não tremer.
Rigidez
Também tem a rigidez pela própria tensão dos músculos. Dá para ver que a pessoa está dura, rígida, é possível avaliar isso fazendo movimento da cabeça, passivo: enquanto você movimenta passivamente a cabeça do paciente, dá para ver que está rígida e, muitas vezes, o movimento sente como se estivesse uma roda denteada.
Ou quando pede ao paciente para abrir e fechar a mão e movimenta a outra, e sente a rigidez: você fixa um braço em uma e movimenta a outra enquanto ele está abrindo e fechando e percebe – ele vai fazer um movimento como se de uma roda denteada, você vai ver o ruim com essa rigidez, está a outra mesmo mexendo e ele tendo essa rigidez, e do outro lado normalmente vai estar mais livre.
Instabilidade Postural
É possível também avaliar a instabilidade postural do paciente, como colocá-lo de costas e o médico, o avaliador dar um puxão nele para trás, e ele tem que ficar de pé, isso é um reflexo postural. Os bípedes têm o reflexo de manter-se de pé, então você puxa a pessoa para trás, se ela está solta e fica de pé, tranquilo, beleza, está normal. Agora, se ela desequilibra com tendência à queda, isso está alterado.
Ou pode contar o tanto de passos que a pessoa dá para conseguir se estabilizar: você puxa e a pessoa desequilibra… marcou sete passos para se estabilizar, ela está com uma instabilidade postural muito grande; se puxa e ela cai, tem que ser segurada pelo médico ou por outra pessoa, mais instável ainda ela está.
Ou então você pode fazer uma avaliação verificando a capacidade de a pessoa ficar em uma perna só. Vamos supor que a perna direita seja a que esteja pior, ela não consegue ficar facilmente na perna direita, ela pega a perna esquerda e fica normal.
Marcha Parkinsoniana
Também temos que avaliar a marcha parkinsoniana. Vamos supor que o lado afetado do paciente é o direito, ele caminha com um passinho mais curto, o pé mais afastado e o braço direito mexe pouco.
São passos mais curtos, o pé que é mais acometido arrasta mais, o outro sai mais do chão e o braço que é mais acometido também tem tendência a ficar mais parado, porque o normal de andarmos é alternando o balanço da perna com o braço naturalmente, pensamos nisso. E o paciente parkinsoniano anda e pode ter um balançozinho reduzido ou até mesmo parado, congelado, com os passinhos mais curtos, especialmente o do lado mais afetado.
Voz do Parkinson
Outro aspecto a ser avaliado na clínica do paciente parkinsoniano é a voz. Ele tem uma voz tipicamente mais fraca, que fica mais para dentro, é aquela voz que a pessoa custa a ouvir, parece que está faltando força para falar, a voz está contida, e que tem dificuldade para soltar a voz; a voz com perda de força, e que, às vezes, tem certa gagueirinha e vai dar uma tremidinha na voz, que chama-se festinação de voz.
A voz do paciente parkinsoniano é hipofônica, que é uma voz enfraquecida e que, muitas vezes, pode dar uma leve guagueirinha, um gaguejar no início de alguma frase.
Sintomas Não Motores
O paciente parkinsoniano também tem vários sintomas não motores. Dentre eles, o mais comumente associado à Doença de Parkinson é uma ansiedade muito grande que aumenta nos últimos meses ou anos, e desproporcional ao histórico de ansiedade da própria pessoa. E muitas vezes associada também a algum grau de depressão, pois menor parte dos pacientes parkinsonianos tem depressão e em uma grande maior parte tem ansiedade.
E também, facilmente, os pacientes parkinsonianos têm a noite de sono alterada, têm sonhos agitados, em que dá uns chutes, uns murros, uns solavancos e murmura, dá uns gritos, e fica refletindo os sonhos no corpo – o nome disso é transtorno de comportamento de sono REM.
E muitas idas ao banheiro durante a noite, mesmo que a pessoa tenha próstata ou sei lá o que for, idas muito frequentes do banheiro à noite podem ser apneia do sono ou sintomas de noctúria relacionados à Doença de Parkinson. Outra coisa que é muito comum nos pacientes parkinsonianos é o intestino preso, que fica preso e mais lento, mais devagar.
Outro sintoma muito comum dos pacientes parkinsonianos são as dores. Porque os músculos vão ficando mais tensos, rígidos, contraídos, e facilmente têm dores musculares relacionadas a isso, que facilmente são interpretadas como tendinite, bursite, qualquer coisa “ite”, e problemas da coluna e que não são, não resolvem e não melhoram com isso. E quando você dá o remédio do Parkinson, que relaxa os músculos e põe a dopamina que está faltando, melhoram essas dores.
E também outro sintoma comum do paciente parkinsoniano é a perda do olfato, a anosmia. Nos casos, se não for lógico de Covid, lesão do nariz, sinusites e rinites crônicas, a perda do olfato de maneira progressiva comumente está relacionada à Doença de Parkinson.
Classificação da Doença de Parkinson
Como a Doença de Parkinson é classificada? Tem diversas formas de classificação da Doença de Parkinson: pode ser classificada como a forma de apresentação dela ao eixo de acometimento, ao grau de acometimento e na quantificação, na quantidade de sintomas que a pessoa tem.
Forma de Apresentação
Quanto à forma de apresentação, uma delas é se a pessoa tem a forma tremulante, na qual o Parkinson da pessoa é muito mais de tremor do que de rigidez e lentidão. A outra forma é a rígido-acinética, é a que a pessoa fica toda dura, parada, travada e quase não treme e pode, às vezes, nem sequer tremer. E tem a forma mista, em que a pessoa tem tanto a rigidez quanto o tremor e a lentidão em proporções relativamente similares.
Eixo de Acometimento
A doença pode ter a classificação quanto aos eixos de acometimento: pode ser central, axial, que é a que pega cabeça e tronco, ou apendicular, que normalmente afeta mais a questão da movimentação dos próprios braços, das mãos, função, tremor, rigidez, e a pessoa não tem problemas de engolir, falar, não tem problemas de quedas ou de postura.
Já quando o cometimento é mais axial, às vezes, o paciente pode nem ficar tremendo tanto, nem ter tanto problema nas mãos ou nos pés, mas tem uma voz muito fraca, engasga e cai muito, tem muita dificuldade em manter-se de pé e equilibrada.
Grau de Acometimento
Em relação ao grau do acometimento, é uma escala de Hoehn e Yahr, que é a escala mais amplamente utilizada para ter a classificação em relação ao estágio de acometimento da Doença de Parkinson.
Ela vai de 1 a 5; e no estágio 1 são sintomas leves que podem passar despercebidos muitas vezes e que outras pessoas possam perceber que o paciente está um pouco mais curvado, arrastando um pouco mais o pé ou as expressões faciais estão um pouco mais pobres, e sintomas só de um lado do corpo.
Estágio dois: sintomas já bilateralmente, mais de maneira assimétrica, um lado mais do que o outro, mais evidente tremor, rigidez ou até mesmo a lentificação, mas o paciente tem total independência.
Estágio três: sintomas bilaterais, mais evidentes, tanto de um lado quanto do outro, e que chegam a comprometer o dia a dia da pessoa, e que a pessoa já chega a ter risco de quedas. E tem maior desafio para as atividades cotidianas, como até mesmo para ter o uso do celular ou para algum manuseio de alguma coisa.
Se está no off, a pessoa tem problemas para fazer essas coisas, para o manuseio de objetos, para se vestir ou fazer coisas; dependendo do grau do off, ela tem já comprometimentos e pode necessitar de uma eventual ajuda.
Estágio 4: é um grau de incapacidade já bem avançado, que necessita de constantes auxílios de terceiros, viver sozinho nesse estágio já é impossível, apesar da pessoa conseguir também ainda andar sozinha, fazer coisas, mas não pode ficar sozinha, por quê? Sempre tem um risco de queda, sempre necessitando de alguma ajuda.
Estágio 5 é o mais avançado da doença, em que o paciente está restrito a uma cadeira de rodas ou à cama. Nesse estágio, é muito comum ele ter também alucinação, confusão mental – é um estágio final da doença.
Quantificação de Sintomas
A doença também pode ser classificada quanto à quantificação de sintomas. Qual é o grau, que tanto a pessoa é rígida, treme? Ela treme só um pouquinho, só o dedo, treme o dedo com a mão, treme a mão toda, treme o corpo inteiro, ela é dura? Que tanto? Para ter uma quantificação de sintomas, foi criada uma escala que chama-se UPDRS.
Essa escala é dividida em quatro partes: a primeira avalia os estados mental, cognitivo e emocional do paciente; a segunda é para as atividades de vida diária, que tanto que a pessoa está tendo problema para fazer as coisas de vida diária normal.
A terceira parte é para poder examinar e quantificar exatamente os sintomas motores do Parkinson, desde lentificação, rigidez, tremores, instabilidade postural, a voz, assim por diante. E a quarta parte é para fazer a quantificação de complicações referentes ao tratamento da Doença de Parkinson, se a pessoa está tendo discinesia, se está tendo off, o que está tendo de complicação do tratamento.
E antes de prosseguirmos, gostaríamos que vocês que estão lendo o artigo, escrevessem nos comentários “Parkinson:“ e o que têm de dúvidas, o que gostariam de saber, quais são as suas preocupações, o que gostariam de ter em novos artigos e até mesmo o que estão achando desse conteúdo.
Causas
Ainda não sabe-se uma causa patente e clara, e é justo por não conhecermos a causa clara da doença ou as causas da doença que ainda colocamos o nome da própria doença de Doença de Parkinson idiopática.
Nós sabemos várias coisas, mas não sabemos tudo que leva a pessoa a ter a doença. Sabemos que existe uma proteína chamada alfa-sinucleína, que está alterada e se agrega, formando os corpúsculos de Lewy, que dá para ver nos neurônios quando faz o estudo de cérebros de pacientes que já faleceram.
E também sabemos que essa alfa-sinucleína alterada se propaga alterando outra e isso vai se propagando como um vírus ou como uma doença priônica, que não é vírus, é só proteína que altera uma, que altera outra e assim ela vai se espalhando.
E sabemos que essa alfa-sinucleína alterada pode ter origem no tubo digestivo ou também no trato olfatório da pessoa, e ela tem uma progressão estereotipada de quando chega no tronco cerebral.
Se ela começa no tubo digestivo, sobe pelo nervo vago, chega até no tronco cerebral ou então chega, pelo bulbo olfatório, também no cérebro, e quando chega no tronco, tem uma distribuição estereotipada, que é igual para todas as pessoas, ela começa a se distribuir no tronco, depois vai para uma região, depois vai se espalhando por todo cérebro – essa progressão da alfa-sinucleína chama-se progressão de Braak.
Braak foi um médico que estudou cérebros de vários pacientes parkinsonianos em diferentes estágios e viu que tinham essa progressão de distribuição da alfa-sinucleína alterada.
Isso significa que tem essa propagação dela e que se tiramos a alfa-sinucleína de uma pessoa, de um cérebro doente e colocarmos em um saudável, ela começa a esparramar por esse cérebro também e foi visto isso em animais.
Também se sabe que na Doença de Parkinson tem uma disfunção das mitocôndrias e a disfunção mitocondrial também leva à falência dos neurônios, e isso está envolvido no processo de morte dos neurônios.
E sabemos também que o sistema imune cumpre um papel fundamental na morte dos neurônios. Possivelmente, a alfa-sinucleína alterada muda a sinalização, inflama, dá a sinalização de que aquilo está alterado, o sistema imune ataca aquele neurônio que ficou “marcado” como algo doente por conta da alfa-sinucleína alterada.
E também sabemos que quanto mais inflamado o paciente está, quanto mais citocinas inflamatórias, como IL-6, ele tem no sangue, pior é a evolução da Doença de Parkinson.
Sabemos que uma pequena parte dos casos, cerca de 15%, é puramente genética, a pessoa herdou aquele gene e vai desenvolver a Doença de Parkinson. Possivelmente, a Doença de Parkinson venha de uma tendência genética associada às interações com o meio ambiente e que a pessoa venha a ter isso ao longo da vida, e que possivelmente as interações ambientais têm um peso muito maior do que a própria genética da pessoa.
Diagnóstico
Como é feito o diagnóstico da Doença de Parkinson? O diagnóstico é realizado fundamentalmente através do exame clínico, ou seja, é o médico examinando propriamente, no qual é obrigatório o sintoma de bradicinesia, que é a lentidão, logo, o principal sintoma do Parkinson não é o tremor, é a lentidão, e uma lentidão que é tipicamente maior de um lado do corpo do que de outro – tanto quanto os dois lados são igualmente lentos, temos que pensar que não é Doença de Parkinson, é outro parkinsonismo.
E também tem que ter um dos outros dois sintomas: o tremor de repouso ou a rigidez, e também tem que ser avaliada a instabilidade postural, mas essa costuma vir, estar alterada só em fases mais avançadas da doença.
É fundamental que o paciente tenha também uma resposta dramática à levodopa. Eu sempre testo os meus pacientes com o Prolopa, que é a levodopa, e quando você dá a levodopa, os pacientes têm uma melhor dramática, realmente a pessoa melhora o tremor, a rigidez, ela se solta toda, vira uma maravilha e se ela não tem essa resposta dramática, também tem que pensar em outra patologia.
É importante que não tenha outros sintomas de outras patologias que façam o diagnóstico diferencial do Parkinson, como, por exemplo, uma disautonomia grave logo em um momento de diagnóstico ou sintomas parkinsonianos somente nas pernas ou junto com uma demência, paranoia, alucinação… É obrigatório que seja realizado um método de exame de imagem, idealmente uma ressonância, para excluir parkinsonismo vascular e hidrocefalia de pressão normal.
Mas temos outros recursos, não estão dentro do protocolo ainda da Movement Disorders, porém são extremamente auxiliares no diagnóstico da Doença de Parkinson, não são obrigatórios, como, por exemplo, o estudo da ressonância magnética, o de 3 Teslas com estudo no nigrossomo-1 e da neuromelanina.
Ou também o ultrassom transcraniano de parênquima cerebral para estudar o cérebro, não os vasos do cérebro, para avaliar a área de ecogenicidade da substância negra, porque quanto maior, se ela fica muito grande, é muito associada à Doença de Parkinson.
E até mesmo a cintilografia cerebral ou SPECT cerebral com TRODAT – junto com o TRODAT é capaz de quantificar os receptores de dopamina, que estão rebaixados, a quantidade de receptor de dopamina está baixa, é inferida uma baixa quantidade de neurônios que liberam dopamina no cérebro. Uma queda de receptores pode ter essa correlação com perda de neurônios dopaminérgicos, apesar de ser a correlação mais fraca desses.
Epidemiologia
Assim que fazemos o diagnóstico, nós podemos começar o tratamento. Mas antes de abordarmos sobre o tratamento, vamos explicar um pouco sobre a epidemiologia da Doença de Parkinson.
Quem é que tem Parkinson? Qual é o risco de se ter Parkinson? É uma doença comum, não é? Como é? É uma doença neurológica comum, prevalente, que acomete 0,3% das pessoas acima de 40 anos.
Parece pouco, mas não é, uma doença que acomete 0,3% das pessoas acima de 40 anos é prevalente, sendo que a prevalência aumenta com a idade; quanto maior a idade, maiores a prevalência e a incidência, ou seja, o número de casos novos é de 10 a 20 para cada 100 mil pessoas por ano.
Ela acomete mais homens do que mulheres. E o pico de incidência de diagnóstico, ou seja, se for ver, de todas as idades, qual é a que mais se tem a incidência de diagnóstico, o maior pico de incidência de diagnóstico de sintomas do Parkinson do início é 58 anos. É ao contrário do que muita gente imagina, todo mundo pensa “só velhinho”, mas o pico é nos 58 anos e é uma doença de curso evolutivo longo, ela evolui sem fazer nada, de história natural, facilmente há mais de 20 anos de evolução.
Fatores Protetores
O que temos de fatores protetores? E justo por ter uma evolução longa, antigamente, o diagnóstico era feito muito tardio, então, quando o diagnóstico é feito muito tardio, a pessoa conviveu 15 anos com a Doença de Parkinson, faz o diagnóstico só nos cinco anos finais e por isso que tinha a impressão de ser uma doença fatal, mas não é.
Dos fatores que são de risco e fatores protetores, o que protege da Doença de Parkinson? Em estudos amplos, sabemos hoje que o consumo regular de café em doses moderadas tem efeito protetor em relação à Doença de Parkinson.
O ácido úrico elevado tem efeito protetor, os exercícios aeróbicos têm efeito protetor e possivelmente o ibuprofeno, e somente ele, não se sabe porque, tem um efeito protetor em relação ao Parkinson e a nicotina – a única coisa que a nicotina parece ser boa. A nicotina parece ter um efeito protetor em relação ao Parkinson, mas não justifica fumar, a somatória de cigarro piora.
Fatores de Risco
Fator de risco é histórico de traumas cranianos, quanto maior o número de traumas cranianos, maior o risco de desenvolver a Doença de Parkinson. Até foi feito um filme sobre isso, de um homem entre gigantes que fala do médico que é patologista clínico, que começou a ver que a gama de pacientes desenvolveu Parkinson.
E que eles tinham em comum muito traumatismo craniano – que eram jogadores de futebol americano – baixo nível de exposição à luz solar e vitamina D, com isso, a pessoa fica mais inflamada e tem maior risco de desenvolver Parkinson.
Histórico de enxaqueca ou migrânea com aura em meia idade avançada, quando a pessoa está já acima dos 40 anos de idade e fica tendo enxaqueca com aura, tem maior risco de Parkinson.
Histórico de exposição a metais pesados, como cobre, manganês, chumbo, e especialmente que estão dissolvidos na água, ou até exposição a pesticidas, também maior risco de desenvolver. Pessoa que tem exposição a solventes de hidrocarbonetos, que isso é de indústria química, e quem tem uma ingestão excessiva de ferro, também tem maior risco de desenvolver Parkinson.
Tratamento
E quais são os tratamentos? São vários, desde tratamentos medicamentosos e não medicamentosos. Dos medicamentosos, todos eles são focados em ativar os receptores de dopamina, ou seja, são chamadas terapias dopaminérgicas, elas atuam sobre um sistema dopaminérgico, sendo que o principal deles é a levodopa, porque ela transforma-se em dopamina, que fornece justo o que está faltando. Está faltando dopamina? Então, a levodopa justamente substitui, ela transforma-se em dopamina e fornece a dopamina que está faltando.
Também podem ser agonistas dopaminérgicos, não são dopamina, mas atuam no receptor de dopamina, como a rotigotina, que é o adesivo, ou o pramipexol, que é um medicamento oral. Podem ser medicamentos inibidores da enzima MAO-B – tem MAO-A e MAO-B. Ela é super seletiva para dopamina: ela inibe a quebra, a degradação da dopamina, então sobra mais dopamina para ser reutilizada.
Podem ser inibidores da COMT, que também degrada a dopamina para fora do neurônio, uma degrada dentro, outra degrada fora. Inibindo a COMT, sobra mais dopamina e acaba tendo mais inibidor da COMT, como Entacapona ou Opicapone. Inibidor da MAO-B, como a rasagilina por exemplo.
Podem ser também agonistas colinérgicos que não utilizamos muito hoje, vamos utilizar em casos específicos: mais jovens, com mais tremores ou distonia, especialmente como o biperideno e o triexifenidil, que são agonistas colinérgicos que também servem para tratar sintomas do Parkinson.
O tratamento não envolve só tratamento medicamentoso, que por si só já é uma arte fazer um manejo medicamentoso correto da Doença de Parkinson, mas também envolve o cuidado da parte psíquica, que é feito com antidepressivos, calmantes, em alguns casos, antipsicóticos; a clozapina é especialmente boa no Parkinson.
O tratamento da dor, que é feito tanto com medicamentos próprios para dor, analgésicos, relaxantes musculares e terapias físicas; o tratamento da função intestinal com procinéticos, laxativos e emulsificantes fecais. O tratamento de sintomas autonômicos, como a queda de pressão, disfunção vesical, assim por diante.
A terapêutica do Parkinson não é só com medicamentos, tem que ser feita e é extremamente importante o tratamento com terapias físicas, como fisioterapia: é fundamental para o Parkinson, tem que fazer, é tão importante quanto remédio; fonoaudiologia, terapia ocupacional e psicoterapia.
Cada um desses, o Parkinson tem problema da voz e da deglutição, a fono é muito importante. A terapia ocupacional, para manter a função motora fina, da mão, e até mesmo para ganho de funcionalidade, e a psicoterapia para casos em que há a ansiedade e a depressão, justifica-se esse tratamento.
É também possível lançar mão de terapêuticas como estimulação magnética transcraniana, que ajudam na ativação e inibição de certas áreas do cérebro para aspectos motores e psíquicos da doença.
E também para casos selecionados é possível realizar a cirurgia de implante de um estimulador cerebral profundo, é um microeletrodo, que é uma microcirurgia, super delicada, praticamente não invasiva, que implanta o DBS – Deep Brain Stimulation ou estimulador cerebral profundo –, que atua no núcleo subtalâmico ou em alguma outra região do gânglio da base para poder fazer um melhor controle dos sintomas da Doença de Parkinson, ter maior tempo de on e utilizar uma quantidade menor de medicamentos, ela é uma cirurgia muito boa, muito bem indicada.
Alerta
E o que tem de sinal de alerta em relação à doença? Sempre tem que ficar em alerta com a possibilidade de um diagnóstico diferencial, pois não é só Doença de Parkinson que existe.
Sempre tem que fazer diagnóstico diferencial entre tremor essencial: treme é quando a pessoa está em ação, ela vai levar o café na boca, treme, mas se está parada, não treme.
E outras patologias têm sintomas parkinsonianos, como, por exemplo, que são várias outras doenças, atrofia de múltiplos sistemas, doença de corpos de Lewy, degeneração no gânglio corticobasal, demência frontotemporal com sintomas parkinsonianos, hidrocefalia de pressão normal, parkinsonismo medicamentoso, parkinsonismo vascular.
E isso tudo é toda a gama de conhecimentos que o especialista em Parkinson, distúrbio do movimento, tem que ter para cuidar do paciente parkinsoniano.
Se conhece um paciente ou familiares de um paciente parkinsoniano, e gostou do conteúdo, envie o link deste artigo para essa pessoa, pode ser que você ajude-a a ter um melhor controle, um melhor entendimento da própria Doença de Parkinson.
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