Memória Fraca – Como diferenciar um esquecimento normal de doença
O esquecimento faz parte do processo de vida do ser humano e é normal e natural. Porém, desde que ele não afete a vida do indivíduo.
Quando um esquecimento deixa de ser normal?
A seguinte história descreve tal questão.
No início do século vinte, na Rússia, havia um repórter que se tornou paciente de um neuropsicólogo russo muito famoso.
O paciente tinha uma memória impressionante, não esquecia de nada e era capaz de decorar até mesmo os mais simples detalhes, seja de um texto ou de vivências.
Porém, a super memória impedia que o repórter tivesse uma vida cotidiana normal. Pois ele estava sempre preso a detalhes ínfimos e peculiares do seu dia a dia, o que impedia que ele desenvolvesse suas atividades cotidianas de forma corriqueira e simples, como os demais seres humanos.
Um exemplo da capacidade da memória do paciente é a sua relação com a leitura, que era muito diferente do que a de uma pessoa comum. Após ler um texto, o rapaz conseguia recitá-lo, dizer quantos acentos e vogais haviam. Porém, ele não conseguia compreender qual era a mensagem implícita no texto. Ou seja, ele conseguia se lembrar de detalhes muito pequenos e até mesmo, desnecessários, mas não conseguia fazer o essencial, que é captar a mensagem.
Desta forma, compreende-se que:
O esquecimento é normal
Esquecer faz parte do processo de vida do ser humano e, além de ser normal, é natural. Contudo, é preciso avaliar se o esquecimento atrapalha o desenvolvimento da vida do paciente.
Nos dias atuais, a sociedade lida com uma vida é muito corrida e com a necessidade de gerenciar diversas tarefas no decorrer do dia. Fato este que é um desafio para a capacidade humana de recordar.
Desta forma, o homem precisou criar ferramentas capazes de auxiliar a composição da memória, pois sozinha, ela é falha. Uma ferramenta muito eficaz é a agenda. Seja física ou digital, a agenda é um dispositivo que possibilita a anotação de itens importantes que não podem cair no esquecimento. Desta forma, a pessoa tem uma fonte de informação para consultar caso a sua memória venha a falhar.
É preciso avaliar a recorrência dos esquecimentos. Sendo assim, o momento de procurar ajuda médica é quando o paciente percebe que esquece informações de forma recorrente e que isso afeta o prosseguimento da sua vida.
O neurologista cognitivo é quem pode fazer o diagnostico correto. O médico irá avaliar fatores que podem afetar a atividade cerebral, como alimentação e prática de exercícios físicos. Além desses itens, é necessário testar distúrbios orgânicos, pois alguns hormônios podem acarretar perda de memória.
Doenças neurodegenerativas
As pesquisas sobre as doenças neurodegenerativas estão avançando cada vez mais. É possível esperar que na próxima década existam medicamentos capazes de frear tais doenças.
Acerca do tratamento das citadas doenças, hoje é possível impedir que elas se instalem no paciente, caso ele procure ajuda médica em um momento propicio. A doença de Alzheimer, por exemplo, pode não acometer o paciente caso ocorram intervenções médicas no estilo de vida do paciente e uso de medicamentos. Vale ressaltar que existem inúmeras doenças que causam esquecimento além da Doença de Alzheimer, mas normalmente lembram-se dela por ser a mais popular.
Memória saudável
Para analisar a situação da memória do paciente é preciso verificar a importância das informações que a pessoa vem a esquecer. Por exemplo, um crítico de cinema que passe a se esquecer dos nomes de diretores e atores, sofrerá impacto em seu trabalho, o que demonstra a importância das informações que ele não se lembra.
Fatores estressantes que tirem a pessoa do seu eixo de equilíbrio também podem causar esquecimentos. O primeiro passo, nesse caso, é o reequilíbrio emocional do paciente. Após, é preciso investigar se há alguma doença causadora dos esquecimentos ou se eles ocorriam somente em decorrência do estresse.
Pessoas que convivem com o paciente podem indicar fraqueza de memória pois essas pessoas têm facilidade em reconhecer uma mudança no comportamento pessoal da pessoa. Sendo assim, é importante refletir a respeito caso receba alertas das pessoas com quem convive acerca de esquecimentos repetitivos e procurar ajuda médica.
Quando alguém teria que procurar um profissional de saúde?
O momento de procurar um profissional é quando for perceptível que as perdas de memória estão afetando o funcionamento e atrapalhando a organização da vida do paciente. Ou seja, quando o esquecimento trouxer problemas para o dia a dia do paciente, como esquecimento de compromissos importantes, atividades profissionais e educacionais relevantes e até mesmo de compromissos familiares e sociais num geral.
O médico capaz de auxiliar pacientes com problemas de memória é o neurologista cognitivo. Ele atua com a memória, o comportamento, a percepção do ambiente e adequação social.
Autor: Dr. Marcelo Canella