Vacinas Contra o Coronavírus

Hoje, a Dra. Keilla Mara de Freitas, que é médica infectologista, vai responder algumas dúvidas frequentes que tem recebido sobre as duas vacinas contra o coronavírus que estão sendo distribuídas atualmente no Brasil.

Vacinas Contra o Coronavírus

Quanto Tempo Depois de Vacinada a Pessoa Tem uma Resposta Imunológica?

Para essa pergunta, ainda não sabemos exatamente o tempo. Mas, de forma geral, esperamos o prazo de um mês após a primeira dose para o sistema imune ter essa maturação e poder ter um pico de anticorpos e ser mais eficaz em sua proteção.

Quem Teve a Doença Deve Tomar a Vacina?

Mesmo aquelas pessoas que tiveram formas mais leves da doença estão suscetíveis a terem infecção pelo coronavírus novamente. Após termos contato com o vírus – ficando doente ou não, tendo quadro grave ou não da doença – e depois que o corpo se recupera, nós criamos anticorpos. E é justamente pela criação desses anticorpos que nosso organismo vai se recuperando.

Tipos de Imunidade Existentes

Existem dois tipos de imunidade: a celular e a moral. A imunidade moral é a criação de proteínas – que são os anticorpos – que nós conseguimos medir no exame de sorologia, aqueles de IgA, de IgG e de IgM.

E essas titulações demoram um tempo para aparecerem e também para desaparecerem. Algumas pessoas têm um tempo curto e com picos altos de anticorpos. Ou seja, após um período de semanas ou meses, os níveis de anticorpos começam a cair. E com o passar do tempo, com os anticorpos mais baixos, esse nível de proteção também vai diminuindo.

Por outro lado, temos o anticorpo de tipo celular, que não é medido nesse exame de sorologia, mas está lá. Então, têm algumas pessoas que a sorologia demora a positivar ou mesmo não chega a positivar. E isso não significa que não tenham uma certa proteção. Porque elas têm essa imunidade celular, que são os anticorpos de linfócitos T específicos.

E o que acontece? Mesmo que a pessoa não tenha essa resposta de proteção no exame de sangue, ela vai tê-la quando tiver contato com o vírus. Mas não temos como saber quanto tempo e nem como medir. E é por isso que sempre que um paciente meu se cura da COVID-19, a minha orientação, em termos de prevenção, é que ele haja como se não tivesse tido contato com o vírus ainda; que é o mais seguro.

Além disso, mesmo que tenha altos níveis de anticorpos no sangue, eles são específicos. Então, se tiver contato com uma cepa diferente do vírus, esses anticorpos não vão ser capazes de te proteger. E é por isso que mesmo aquelas pessoas que já ficaram doentes ou que tiveram contato com o vírus selvagem – com o coronavírus – devem se vacinar.

Obviamente que essa vacinação será realizada em um segundo momento, porque a prioridade é imunizar as pessoas que ainda não tiveram doenças pelo coronavírus e que fazem parte dos grupos de risco para terem complicações da doença.

Vacinas Contra o Coronavírus

Tipos de Vacinas Disponíveis no Brasil

Aqui no Brasil, temos disponíveis, neste primeiro momento, duas vacinas diferentes: a de Oxford e a da CoronaVac, que é desenvolvida junto com o Instituto Butantan. E o mais importante é dizer que as duas vacinas são igualmente seguras e eficazes, principalmente, para aquilo que mais nos interessa que é a prevenção dos quadros graves da doença. Mas elas têm formas diferentes de alcançar esse objetivo.

A vacina de Oxford, por exemplo, usa pedaços – proteínas virais – que são colocados em outro vírus, o adenovírus (um vírus respiratório), que é modificado laboratorialmente para causar ainda menos doenças do que ele já produz.
Logo, não causa quadros graves respiratórios, mas ele é modificado em laboratório e expressa proteínas específicas do Sars-CoV-2. Então, esse vírus é como uma quimera: ele serve como um transporte para apresentar esse antígeno, que é essa proteína do coronavírus, ao sistema imune.

Já a vacina do Butantan, a CoronaVac, é totalmente diferente. Ela é só do coronavírus, mas do Sars-CoV-2 morto ou inativado. Ou seja, nenhuma dessas duas vacinas consegue causar a doença da COVID-19 na pessoa que as toma.
E mesmo vacinados, é importante permanecermos com os mesmos cuidados de isolamento social, do uso de máscaras, da higienização de mãos e com todas as medidas sanitárias que temos tomado para evitar a contaminação do coronavírus.

Isso porque, primeiro: a vacina tem um tempo para fazer o seu efeito. Segundo, este efeito não é de 100% em todas as pessoas. E terceiro, sempre podem haver novas variantes do vírus (novas cepas) circulando.

Sem contar que ainda estamos no momento de pandemia, então, por mais que a vacina já tenha começado a ser distribuída, ainda estamos longe do momento em que vamos poder dizer que saímos da fase crítica. Então, todo o cuidado é pouco.

É importante saber que a vacina é o meio para sairmos desse pesadelo, mas ela não vem para erradicar a COVID-19. Ele será um vírus com o qual vamos conviver, assim como convivemos com o da Influenza.

Ou seja, a vacina não vai, de um dia para noite, fazer com que desapareça o coronavírus, mas sim, chegará a níveis mais baixos, com taxa de transmissão bem mais baixa do que a do atual momento. E com a maioria das pessoas vacinadas, mesmo aquelas que chegaram a ser infectadas, teremos quadros mais brandos da doença, com menos complicações.

Cada Pessoa Reage de uma Forma Diferente ao Vírus?

O sistema imune de uma pessoa não é igual ao de outra e por isso, por mais que ela não tenha uma doença de imunidade baixa, pode ter uma resposta menor a uma vacina do que a outra pessoa, mesmo sem ter comorbidade.
Por outro lado, aquelas que têm doenças que levam à queda da imunidade, terão uma resposta ainda menor, mas sempre serão protegidas pela vacina. Portanto, ainda que pegue a doença, é sempre melhor ter a vacina do que ter o primeiro contato com o vírus selvagem.

O que é Preciso Para Atingirmos a “Imunidade de Rebanho”?

Primeiro, precisamos fazer outra pergunta: que porcentagem da população nós precisamos vacinar para se ter a imunidade de rebanho? Sabemos que pelos tipos de vírus respiratórios, em geral, precisamos de um mínimo de 60% a 70% de vacinação da população para que tenhamos o efeito da imunidade de rebanho.

Mas o que é a imunidade de rebanho? A partir do momento em que vacinamos a maior quantidade de pessoas, mesmo aquelas que por alguma razão não tenham se vacinado ou que tenham contraindicação, todos estarão protegidos.

Portanto, o alvo de vacinação com o qual trabalhamos é de 90% da população em geral, porque sabemos que quanto maior é a quantidade de pessoas vacinadas, mais eficaz será a proteção em nível de população.

E sabemos também que poucas pessoas não podem se vacinar por diversos motivos ou mesmo as que se vacinam, algumas não têm 100% de resposta. Então, essa resposta também é aumentada a partir do momento em que ela tem menos contato com o vírus. Ou seja, as chances de adoecerem e de se infectarem são menores.

Mas, o mais importante no caso do coronavírus não é a quantidade alvo de pessoas que vamos vacinar e sim a consequência desse número de vacinação nos hospitais. Nós precisamos vacinar a maior parte da população e só vamos poder dizer que atingimos a imunidade de rebanho quando, finalmente, o número de pessoas com quadros graves e a quantidade de indivíduos internados em hospitais por conta da COVID-19 não forem mais um problema para o Sistema de Saúde.

Nesse momento, vamos estar tranquilos com relação ao alvo de vacina, seja ele 60, 70 ou 80. Lembrando que ainda não somos capazes de responder se esta será uma vacina que vamos ter que tomar todo ano ou não. Só com os estudos e com o acompanhamento de toda a população será possível termos essa resposta.

Até mesmo porque vai depender das novas cepas que forem surgindo; e nesse caso, teremos que fazer ajustes nessa vacina para mantermos os níveis de eficácia tal qual já fazemos hoje com a vacina contra o vírus Influenza.

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