Problemas Urinários em Síndromes Parkinsonianas

Problemas Urinários em Síndromes Parkinsonianas

Se você quer saber sobre Problemas Urinários em Síndromes Parkinsonianas, fique até o final deste artigo, porque o Dr. Willian Rezende do Carmo, médico neurologista, fundador da Clínica Regenerati e que no canal do YouTube fala sobre Dor, Sono, Parkinson, Emoções e Neurologia Geral, vai explicar sobre o assunto.

Problemas Urinários em Síndromes Parkinsonianas

Os problemas no controle da urina, infelizmente, são comuns nas doenças parkinsonianas e podem ser motivo de grande queda de qualidade de vida. Esses problemas urinários podem ter diferentes apresentações e vamos ver como ocorrem.
Primeiramente, vamos separar por grupos para ter um entendimento melhor, porque cada tipo de doença parkinsoniana pode ter uma apresentação diferente de problemas urinários.

Doença de Parkinson e Demência de Corpos de Lewy

O grupo da Doença de Parkinson e a demência de corpos de Lewy têm em comum mais ou menos o mesmo grupo de problemas, então, vamos primeiro pela Doença de Parkinson propriamente.

O que Acontece?

O músculo da bexiga fica hiperativado. Isso significa que muito facilmente inicia a contração para expelir a urina, o que pode se manifestar das seguintes maneiras: como maior sensibilidade da bexiga.

A bexiga pode armazenar de 700 ml a 800 ml de urina e o desejo para micção, normalmente, se inicia com volumes acima de 300 ml, ou seja, ela pode se expandir até 700 ml, 800 ml para armazenar a urina, mas, normalmente, a pessoa começa a sentir vontade de urinar quando está acima de 300 ml. O desejo pode vir com 600 ml, por exemplo, mas, geralmente, só começa a vir desejo de urinar quando é de 300 ml para cima.

No caso do Parkinson, o reflexo miccional pode se iniciar com um volume bem menor, como, por exemplo, 150 ml de urina. Assim, se a produção de urina é normal, o paciente acaba tendo sensação de bexiga cheia com maior frequência.

Essa sensibilidade de que a bexiga está ficando cheia e dando vontade de querer fazer xixi pode ser maior no paciente parkinsoniano, porque acaba tendo vontade, essa sensação de que a bexiga está com vontade de fazer xixi, com uma menor quantidade de urina. Essa é uma das alterações.

Outra alteração é a maior frequência de ativação do músculo da bexiga. Uma coisa é o músculo da bexiga encher e querer contrair, por exemplo, três, quatro vezes por dia. Outra coisa é a pessoa ter oito, nove vontades de ir ao banheiro, ter uma frequência de contração, ativação do músculo da bexiga muito maior.

Como o músculo da bexiga está hiperativado, pode ter uma frequência maior de ativação para iniciar a micção, especialmente se está com a sensação de bexiga cheia. Assim, o paciente acaba querendo ir ao banheiro com maior frequência e isso é um aumento da frequência urinária durante o dia.

Então, o paciente parkinsoniano pode ter a sensação de bexiga mais cheia ao longo do dia, que é a maior sensibilidade, e também pode ter a frequência urinária aumentada durante o dia, em que acaba indo mais vezes ao banheiro.

Também pode acontecer maior intensidade da ativação do músculo da bexiga. Nós explicamos sobre a frequência, em que ele vai com maior frequência, o músculo está ativado com maior frequência, mas também pode ter uma intensidade de contração maior.

Independentemente da frequência urinária, a força com que o músculo da bexiga se contrai ao início de um estímulo de micção também é importante. Mesmo que a frequência de micção seja normal, ou seja, ela pode estar tendo uma frequência de micção normal, mas o músculo pode iniciar essa contração com uma intensidade ‘X’ que provoca uma urgência urinária.

Primeiro, é aquela sensação, dá uma contraidinha de tipo, “opa, eu tenho que ir ao banheiro”, mas a pessoa consegue segurar, se organizar, ela pode esperar, terminar de resolver as coisas no computador, e depois de alguns minutos ir.

Agora, se a contração é muito intensa, tem uma urgência para ir ao banheiro. Ela sabe que se veio a vontade, tem que ir naquele momento. Se não for naquele momento, começar a demorar muito mais, tem risco de acabar perdendo urina.

Mas a intensidade também pode ser tão forte, tão grande, de tal maneira, que vem a urgência, mas a contratação é tão forte que logo depois já vem a incontinência urinária.

Então, um: é urgência, em que a pessoa sentiu a vontade, sabe “eu tenho que ir agora, correndo, porque vai sair xixi daqui a muito pouquinho, não posso demorar nada”. Outro é: veio vontade e veio xixi. É a urge incontinência, ela começa a tentar levantar, ir ao banheiro, no meio do caminho, perde a urina, devido à intensidade da força que a musculatura da bexiga está vindo com a contração.

Pode acontecer uma piora desse controle neurológico do esfíncter do músculo da bexiga. Quando a bexiga está sendo preenchida, a urina não sai porque existe um músculo que fecha a saída da bexiga para a uretra.

Por exemplo, o músculo da bexiga vai enchendo e embaixo tem um musculosinho que aperta e solta. Para a bexiga ficar enchendo e não vazar a urina, fica fechado enquanto a bexiga enche. Quando vai soltar a urina, ele abre e a bexiga contrai.
Isso é como se fosse o dedo apertando o bico de um balão ou uma bexiga de ar que impede que ele saia. O normal é que, no momento da micção, esse músculo, esfíncter, relaxe e o músculo da bexiga comece a contrair para que a urina saia.

O que pode acontecer é que o músculo pode relaxar um pouco, mesmo que não esteja no momento da micção, assim pode ter alguma perda urinária, que pode ser de pequeno volume, como umas gotinhas ou só um pouquinho, ou até de um volume maior mesmo, com um escape maior de urina.

Outra coisa que pode acontecer e talvez seja a mais comum delas é a chamada noctúria, que é quando alguém é acordado durante a noite pelo desejo de micção. É diferente da pessoa que acordou de insônia, foi na cozinha, tomou uma água e depois “opa, deixa eu aproveitar e ir ao banheiro”. Não, na noctúria, ela é acordada pelo desejo de micção.

Até um evento por noite ou no máximo dois episódios por noite pode ser considerado normal pela idade, mas quando esse número é três ou mais vezes por noite, já se torna um problema considerável na qualidade de sono.

No paciente parkinsoniano, esse é um distúrbio de micção mais comum de todos. Isso pode acontecer devido à baixa estimulação dopaminérgica durante a noite. Tem pacientes que acabam não tomando nenhum medicamento de dopamina durante a noite e quando cai a estimulação de dopamina no cérebro é quando aumenta mais essa vontade de ficar fazendo a micção durante a noite. Essa quantidade de dopamina baixa é relacionada a um maior número de noctúrias.

Além da baixa da dopamina durante a noite, também pode estar relacionada com apneia do sono, que é comum em pacientes parkinsonianos e igualmente é uma causa de noctúria, ou seja, além do próprio Parkinson causar a noctúria, em pacientes de mais idade é comum ter a apneia do sono, que igualmente é uma causa de noctúria. E a apneia do sono é comum de acontecer com o envelhecimento, então, é comum o paciente ter o Parkinson e, às vezes, também ter a apneia do sono.

Há estudos que relatam que os sintomas de armazenamento de urina estão presentes em 57% a 83% dos pacientes parkinsonianos, enquanto sintomas de controle da micção são observados em 17% a 27% dos pacientes.

De todos os sintomas urinários, a noctúria é a queixa mais comum de todas, o que é maior do que 60% dos pacientes com doença de Parkinson. E a urgência ocorre em de 33% a 44% dos pacientes, enquanto a frequência aumentada é sentida por 16% a 36% dos pacientes.

A hiperatividade do detrusor ou músculo da bexiga é a anormalidade no exame urodinâmico mais comum em pacientes com Doença de Parkinson. A taxa de distúrbio urinário neurogênico nesses pacientes é de 45% a 93%.

AMS – Atrofia de Múltiplos Sistemas

A AMS é a atrofia de múltiplos sistemas, um tipo de doença parkinsoniana também que vem com muitos sintomas de disautonomia, a pessoa tem descontrole urinário, intestinal, da pressão, da sudorese e diversas outras coisas.
E na AMS, ao invés do músculo da bexiga estar hiperativada, acontece meio que o contrário.

Micção por Transbordamento

É muito comum o paciente ter a micção por transbordamento. E o que é isso? Quando menos percebe, já se inicia o processo de micção que não tem como controlar.

Isso acontece porque o paciente não tem uma percepção de plenitude vesical, de que a bexiga está ficando cheia, e ela também perde força de contratura, ou seja, a bexiga fica cheia e não tem tanta força de contratura, quando a bexiga fica muito cheia e qualquer pressão intra-abdominal, como de se levantar, tossir, espirrar, se movimentar em uma cadeira, etc pode deflagrar o início de uma micção.

Assim, a pressão do líquido no interior da bexiga passa a força dos músculos que seguram a urina, logo, o esfíncter está segurando, mas se a pressão, a bexiga já está muito cheia e aumentou a pressão no abdômen, essa força vence a força do esfíncter que é para segurar o líquido dentro da bexiga

E quando passa essa força, acaba transbordando a urina da bexiga, do tanto que ficou cheia, e se dá o mínimo estímulo físico, aquela urina transborda para fora da bexiga.

E só acontece porque existe uma perda de sensibilidade para perceber que a bexiga está cheia e uma perda de força da contratura do músculo para esvaziar a bexiga. Assim, não se consegue um esvaziamento satisfatório da bexiga, que sempre fica cheia.

Então, a pessoa não é aquela que não urina nada, pode ter vontade de fazer xixi, mas esvazia, não totalmente e facilmente fica cheia. E chega em um momento que fica tão cheia que transborda a urina e vem a incontinência urinária por transbordamento.
O diagnóstico do tipo de disfunção miccional é feito por meio do exame do estudo urodinâmico, de um ultrassom de vias urinárias, com a bexiga cheia e depois da micção.

Assim, entendemos qual é o exato tipo de problema do controle urinário que o paciente está tendo para tomarmos a devida medida terapêutica para cada caso, seja de uma bexiga que fica hipoativa e de baixa sensibilidade, ou uma bexiga hiperativa e até de uma sensibilidade aumentada.

Esses são distúrbios urinários nas síndromes parkinsonianas. Se você conhece, já vivenciou ou sabe de algum problema de distúrbio do controle urinário, escreva nos comentários como foi esse seu problema ou de quem conhece. Se tem dúvida sobre alguma questão do artigo, faça essa pergunta nos comentários.

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