Estimulação Magnética Transcraniana (EMT) para Tratamento de Dor Crônica
Se você quer saber sobre a Estimulação Magnética Transcraniana para Dor Crônica, fique até o final deste artigo, porque o Dr. Willian Rezende do Carmo, médico neurologista, fundador da Clínica Regenerati e que no seu canal do YouTube fala sobre Dor, Sono, Parkinson, Emoções e Neurologia Geral, vai explicar sobre isso.
Necessidade da Estimulação Magnética Transcraniana para Dor Crônica
Neste conteúdo, vamos abordar sobre a estimulação magnética transcraniana para dor crônica, um assunto extremamente importante, porque existe uma necessidade muito grande de ferramentas para tratar a dor crônica, por isso, justifica relatarmos e usarmos a EMT para esse tipo de condição.
A dor crônica é um desafio muito grande para diversos pacientes, seja a neuropática, uma enxaqueca crônica, fibromialgia ou até mesmo uma dor na coluna crônica, que tem a característica de modificar o funcionamento do cérebro, no qual fica muito mais sensível e perceptível a dor.
O cérebro de quem tem dor crônica está treinado a perceber dor, tem mais dificuldade em inibir o seu processo e, às vezes, mesmo com fortes medicamentos para controlar, prevenir ou até mesmo procedimentos para que tentemos abrandá-la, não chegam a ser suficientes para controlar a dor do paciente, justamente porque a percepção de dor no cérebro está muito grande, qualquer mínimo estímulo de dor, o cérebro a percebe e também a capacidade de inibi-la no cérebro está reduzida.
O funcionamento do cérebro foi modificado ao longo do tempo devido à dor crônica, isso chama-se sensibilização central, que é a maior capacidade do cérebro em perceber a dor e a menor capacidade de inibir a mesma.
Já existem diversos estudos de ressonância funcional comparando o cérebro de quem tem dor crônica com o de quem não tem e sabe-se que a forma de funcionar do cérebro desses pacientes é diferente, justamente por conta de estar tendo dor crônica.
E como o seu tratamento é multimodal, quanto mais ferramentas que tenham a evidência científica de eficácia para o tratamento da dor, melhor para o paciente. Então, por isso, justifica sabermos, conhecermos e ‘lançarmos mão’ da estimulação magnética transcraniana para o tratamento da dor crônica.
O que é a Estimulação Magnética Transcraniana?
A estimulação magnética transcraniana é uma técnica pela qual influenciamos a atividade dos neurônios do cérebro, ou seja, podemos excitá-los ou inibi-los de uma maneira regional.
O cérebro funciona como um processador biológico, os neurônios funcionam com a atividade elétrica e isso gera o processamento de dados pelo cérebro que controla todo o corpo e promove todas vivências psíquicas e mentais que nós temos.
Esse processador biológico tem compartimentos localizados para cada função, sendo áreas da visão, motricidade, sensibilidade, audição, do raciocínio lógico, das emoções e assim por diante. Tudo que temos de vivência humana está localizado no cérebro.
Nós podemos influenciar e modular a atividade dos neurônios de diferentes maneiras, seja química, por exemplo, com medicamentos que aumentem a atividade dopaminérgica dos neurônios, e atividade física, que ativa e usa mais neurônios motores. A repetição de movimentos e manobras que condicionam os neurônios a executarem manobras com maior facilidade, como na fisioterapia.
Outra maneira que podemos interferir na atividade dos neurônios é por meio dos campos magnéticos, que geram potenciais elétricos em áreas muito específicas do cérebro e essa atividade elétrica pode ser de forma excitatória ou inibitória dos neurônios.
Então, se queremos inibir a área que está produzindo a ansiedade no cérebro, colocamos a bobina do aparelho no local e produzimos campos magnéticos na forma de pulsos, em uma frequência que irá inibir a atividade dos neurônios naquela região.
Caso uma pessoa tenha uma queda da atividade neural relacionada ao foco, à atenção, ao bem-estar, ao prazer, interesse da vida, podemos colocar a bobina na região correspondente e aplicar ondas magnéticas em uma frequência que estimule os neurônios, de forma a podermos ajudar no tratamento da depressão, por exemplo.
Assim, a depender do que queremos no cérebro, podemos excitá-los ou inibi-los, e dessa forma, obtermos o resultado que desejamos.
Como é Realizada a Estimulação Magnética Transcraniana para Dor Crônica?
Apesar da estimulação magnética transcraniana para dor crônica ainda não ter recebido aprovação pelo FDA, que é o órgão regulador americano, para liberar o uso terapêutico, as evidências de que funciona já existem e são múltiplas, só que ainda não foi liberada porque não chegaram a um consenso sobre qual é a melhor forma de aplicá-la.
É liberado o uso clínico da estimulação porque já existem evidências da sua eficácia e a técnica é extremamente bem tolerada e praticamente sem efeitos colaterais, mas sem a liberação do FDA, os convênios não são obrigados a pagar nem o SUS.
Então, isso significa que a técnica pode ser utilizada, mas ainda não é obrigatória a cobertura dos custos pelos convênios, o que só ocorre após a aprovação do FDA e dos demais órgãos regulatórios sobre o uso da técnica em cada país.
Mas essa situação de ainda não ser aprovada para usar com a aprovação do FDA pode, em breve, acabar sendo mudada, visto que estudos de revisão sistemática sobre a eficácia da técnica de alta frequência, ou seja, excitatória no córtex motor primário, tem efeito analgésico de longa duração para diversos tipos de dores crônicas e o racional de estimular o córtex motor, do movimento, é de que nele também estão contidas as conexões neurais relacionadas à inibição do processo da dor.
Sendo assim, estimulando ou fortalecendo o centro que inibe a percepção de dor, o cérebro fica mais forte para conseguir inibir a dor. Excitamos o centro que tem a capacidade de inibir a dor, ficando mais forte, logo, ele consegue inibir mais a dor.
Em uma sessão típica de estimulação magnética transcraniana para controle de dor, começamos com a localização dos pontos cranianos e a marcação deles na ‘toquinha’ para futuras sessões, o que acontece por meio de medidas dos pontos que temos que estimular, especialmente na área M1, que é a área motora, em cima dela é aplicada a estimulação repetitiva excitatória e também localizamos o ponto dorsal lateral frontal esquerdo, que igualmente pode ser utilizado no complemento ao tratamento da dor.
O paciente é posicionado em uma poltrona e são realizados testes para descobrirmos o seu limiar motor. Isso significa que aplicamos pulsos magnéticos na região motora da mão e descobrimos o nível de energia necessário para gerarmos o movimento involuntário da mão do paciente.
O que significa? Na mão, aplicamos o estímulo magnético por meio da bobina, que acaba mexendo. Se é muito fraca, aplica e ela fica parada. Tem que, na verdade, achar a menor potência suficiente para gerar o movimento da mão. Se é muito grande, a mão dá um ‘movimentão’, se é justamente a necessária, dá um movimentinho.
Então, é desse jeito mesmo, por meio da geração da atividade elétrica no cérebro, na região que controla os movimentos daquela mão, que vai movimentar por meio do controle do aparelho.
Mas isso é somente para sabermos exatamente o nível de energia que temos que aplicar para aquele paciente específico, porque varia o tanto de energia que vai ser aplicada entre um e o outro. A partir disso, inicia-se a estimulação magnética repetitiva, excitatória, no córtex motor do paciente.
Após essa estimulação, são realizados exercícios e procedimentos de Fisioterapia para o controle da dor porque são potencializados pela estimulação que foi realizada previamente.
Depois dessa sequência de estimulação do córtex motor e dos procedimentos especializados da Fisioterapia, podem ser realizados estímulos na área pré-frontal dorsolateral esquerda como complemento no tratamento da dor também.
A estimulação da área motora facilita a ativação dos neurônios que controlam a dor, então, a estimulação da área pré-frontal igualmente tende a ajudar na melhora dos estados emocional e de humor do paciente que também vêm junto com a dor.
Quais são os Resultados Esperados com Estimulação Magnética Transcraniana para Controle de Dor?
Os resultados que se espera com a terapêutica da estimulação magnética transcraniana são que pelo menos 50% dos pacientes tenham uma redução em aproximadamente 50% do nível da dor e que isso dure cerca de um a seis meses, sendo que têm casos que podem durar até um ano.
O tamanho da eficácia do tratamento está diretamente relacionado ao número de sessões e à sua frequência, que devem ser aplicadas uma próxima da outra diariamente, ou seja, todos os dias da semana, pelo menos no início do tratamento.
Portanto, quanto mais intensa é a aplicação e quanto maiores o tempo de aplicação, quanto maior o número de sessões, maior é a chance de um resultado positivo no controle da dor. Então, o paciente que aplica uma, duas vezes na semana não vai ter efeito nenhum, isso já é comprovado.
E todos esses resultados já têm uma evidência científica de que a melhora vem muito acima do que quando é realizada uma técnica de estimulação magnética placebo, na qual não se estimula verdadeiramente o cérebro, apenas cria uma sensação de estimulação. Isso significa que o estudo mostrou que o efeito do controle da dor é real, porque o número de melhora esperada é acima do que é realizado no placebo.
Assim sendo, colocaram a bobina no paciente, dá um barulhinho, não tem estímulo magnético verdadeiro para sentir como se estivesse sendo estimulado. Consideraram o paciente que tem o estímulo verdadeiro e compararam o efeito de cada um, vendo que quem tem o estímulo verdadeiro realmente apresenta melhora do controle da dor, ou seja, é uma técnica que não é placebo, tem realmente eficácia acima do placebo.
Então, a técnica de estimulação magnética transcraniana para a dor é uma opção terapêutica extremamente válida para diversas situações na jornada do paciente com dor crônica e, muitas vezes, quando conseguimos deixá-lo sem dor com a EMT, também é realizada a continuidade de tratamento com medicamentos, terapias físicas e controle emocional para evitar o retorno da dor.
É uma técnica segura, com comprovação científica, com poucos efeitos colaterais e pouquíssimas contraindicações, logo, é um arsenal de ‘mão cheia’ para o tratamento das pessoas que têm dor crônica.
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