Parkinson – Atividade Física e Doença de Parkinson
Neste artigo, o Dr. Willian Rezende do Carmo, médico neurologista, fundador da Clínica Regenerati e que no seu canal do YouTube fala sobre Dor, Sono, Parkinson, Emoções e Neurologia Geral, vai abordar sobre Atividade Física e Doença de Parkinson, quais são suas relações, seus benefícios, em qual dose e que tanto tem que ser feito de atividade física na Doença de Parkinson.
Definição da Atividade Física e Doença de Parkinson
A primeira coisa que temos que trazer é a definição de que Parkinson é uma doença relacionada à inatividade física, é definida pela lentidão motora, a pessoa que fica mais lenta, tipicamente um lado mais do que o outro, um lado está rapidinho, o outro está mais devagar, ou o tremor de repouso e/ou a rigidez, em que mexe o braço e tem uma rigidez.
Então, o Parkinson tem tendência à pessoa ficar devagar e paradinha, é isso que a doença faz com alguém; essa é a definição da Doença de Parkinson, a lentificação e a cinesia.
Ter a atividade física é literalmente fazer o oposto da doença. Quanto mais parada fica, mais é a doença ganhando; quanto mais ativa fica, menos é a doença ganhando. Logo, com o simples conceito base do que é a definição da Doença de Parkinson, dá para vermos que a atividade física é exatamente o oposto dela.
Benefícios da Atividade Física
O primeiro de todos é a saúde geral. Ela já tem muitos benefícios comprovados, de longa data, sobre o benefício de saúde física geral da pessoa. Reduz riscos de infarto e AVC, que são as principais causas de mortalidade global na sociedade.
A pessoa tem menor risco de doenças depressivas, ansiosas e tem melhor saúde como um todo. Dorme e acorda melhor, tem mais disposição, mais energia.
Antes de mais nada, a atividade física traz uma melhora de saúde geral para as pessoas. E, obviamente, de doenças cardiovasculares, que são as principais causas de morte da população geral, inclusive dos pacientes Parkinsonianos. Os pacientes, normalmente, não falecem de Parkinson, mas de doenças que matam as pessoas como um todo; esse já é um grande ponto.
O segundo grande ponto, muito importante também, é que ela traz uma melhora dos sintomas da Doença de Parkinson. Isso já está muito mais comprovado, tem estudos até mais antigos mostrando que a atividade física constante reduz sintomas da Doença de Parkinson e reduz mesmo.
Eu tenho um paciente que conta, de uma maneira muito importante, muito ilustrativa, que desde que veio comigo e recomendei a começar a atividade física, de fazê-la regularmente, levou a sério e a filha dele também resolveu começar a fazer junto para incentivá-lo primeiro a fazer e levá-lo para a academia.
Depois, ele estava voltando a contar, já tinha um ano que estava fazendo atividade física, que na semana em que ficava sem fazer atividade física, seja porque ia fazer uma viagem, saia de férias ou qualquer coisa do tipo, até o tremor começava a parecer maior – enquanto estava fazendo atividade física regular, o tremor nem aparecia.
Só o fato dele parar de fazer a atividade física, devagarinho o tremor começava a voltar aparecer e bastava voltar a fazer atividade física que o sintoma do já diminuía.
Hoje, temos mais explicações de como e porquê acontece, o fato é que já tem estudos mostrando que a atividade física melhora sintomas da Doença de Parkinson. Além disso, tem também os estudos apontando que reduz a sua evolução.
Já tem mais estudos, mas teve um grande, muito bem feito, publicado na Neurology, em 2022, mostrando que as pessoas que têm hábitos de atividade física de moderada a alta intensidade, e frequentes, têm uma taxa de progressão da Doença de Parkinson muito menor do que das que não têm.
Como mostra a figura que colocamos abaixo, esses gráficos mostram que as pessoas que fazem atividade física têm uma taxa de progressão dos sintomas motores da Doença de Parkinson mais lenta e igualmente até uma melhora ou manutenção do estado mental, do estado cognitivo também, ao longo do tempo na Doença de Parkinson.
Sabemos que a coisa mais grave que faz a Doença de Parkinson ficar mais grave de todas é a deterioração cognitiva; quanto maior a deterioração cognitiva no paciente parkinsoniano, pior é a evolução dela como um todo. E a atividade física ajuda a prevenir tanto a evolução motora desta condição quanto a deterioração cognitiva na Doença de Parkinson.
Hoje, sabemos que a atividade física tem um potente efeito anti-inflamatório no ser humano. Ela tem um benefício de diversos aspectos não só na Doença de Parkinson como em outras condições, por exemplo, no câncer; quanto mais inflamada é a pessoa, maior o risco de desenvolver câncer.
Então, a Doença de Parkinson tem uma relação muito direta com o sistema imune e a atividade inflamatória da pessoa, e já tem estudos mostrando que quanto maiores os níveis de marcadores inflamatórios no paciente parkinsoniano, maior a correlação com sintomas da Doença de Parkinson, ou seja, quanto mais inflamada, maiores os sintomas da Doença de Parkinson; quanto menos inflamada, menos sintomas.
E, provavelmente, isso também explique que quanto menor inflamação, menor a taxa de progressão da doença, porque quem mata os neurônios dopaminérgicos na Doença de Parkinson é o sistema imune.
Ataca os neurônios dopaminérgicos para ter a morte deles e isso está relacionado com essa neuroinflamação, é a inflamação que acaba acontecendo na Doença de Parkinson e a atividade física ajuda a reduzir a atividade inflamatória do corpo como um todo, inclusive no cérebro.
Além disso, tem outra explicação da atividade física porque aumenta a conectividade dos neurônios, que ficam disparando diversas vezes e acabam criando mais conexões, é igual ter uma redundância, mesmo que você perca alguns neurônios, tem vários outros que têm muitas outras conexões e acabam conseguindo manter o papel daquele que foi perdido.
Então, isso aumenta a plasticidade neural e, com isso, tem os fatores de crescimento neural, o BDNF, que estimula o brotamento e aumento das conexões, e a maior atividade de disparo dos neurônios que aumenta também essa rede intrínseca dos neurônios no cérebro que fica uma malha mais protegida, com maior conectividade.
Se antes o neurônio conectava com 10 neurônios, em quem pratica atividade física conecta com 100 outros neurônios, então, mesmo que perca um, dois, tem vários outros fazendo diversas outras conexões que podem também suprir a falta daquele que foi perdido.
A redução da atividade inflamatória no corpo como um todo e o estímulo, a plasticidade neural, explicam todos esses benefícios que vemos na Doença de Parkinson, seja da redução dos sintomas ou até mesmo na prevenção da sua evolução.
Existe outro possível benefício, que foi publicado no artigo que saiu na Neurology, em que estudaram diversas mulheres que faziam a atividade física e viram que na evolução ao longo do tempo, em comparação com as que eram sedentárias, as que praticavam atividade física regularmente tinham risco 25% menor de desenvolver Doença de Parkinson em relação àquelas que não faziam a atividade física regularmente.
Obviamente, isso deve se aplicar também para homens, mas o estudo acabou sendo feito com mulheres, tamanho é o efeito anti-inflamatório do exercício.
Tem um estudo muito interessante que foi feito com ratinhos, em que pegaram ratinhos que faziam atividade física, como os que ficavam nadando o tempo todo, e sedentários, coletaram o sangue, o plasma dos que tinham a atividade física e colocaram nos sedentários para ver o que ia acontecer. Também fizeram a comparação pegando o sangue de ratinhos controle, que eram sedentários e aplicando em outros ratinhos sedentários.
Nos ratinhos sedentários que receberam o sangue de sedentários nada aconteceu, mas os sedentários que receberam o sangue ou o plasma dos que praticam atividade física regularmente tiveram vários benefícios, como redução de fatores inflamatórios, maior disposição da atividade no dia a dia, maior comportamento de atividade, de busca e vários outros benefícios físicos.
Isso mostra como a atividade física produz fatores anti-inflamatórios que mantêm esse benefício de proteção ao corpo. Então, ela é benéfica por diversos fatores.
Qual Tipo de Exercício e Qual Dose de Exercício Tem que Fazer?
Agora que sabemos que a atividade física é benéfica, qual a dose de exercício temos que fazer? Os pacientes me perguntam, “ah doutor, entendi que a atividade física é importante, mas que tanto de atividade física? Será que é fazer uma caminhadinha, tal?”.
Hoje, já sabemos exatamente a dosimetria; a atividade física tem que ter uma intensidade e uma quantidade. A intensidade é que não importa o tipo da atividade física que vá fazer, seja dança, balé, artes marciais, academia, esteira, bicicleta, corrida, seja o que for, importa que a pessoa aumente a frequência cardíaca dela em cerca de 50% – 60% da linha de base.
Se em repouso tem a frequência cardíaca em torno de 80 batimentos por minuto, tem que fazer uma atividade física que aumente a frequência cardíaca para uns 120 bpm – 130 bpm pelo menos, essa é a dose da intensidade da atividade física que tem que fazer.
Isso, normalmente, pega componente aeróbico, mas pode ter componente aeróbico com resistido, com a musculação mais leve, mais rápida, que também aumenta a frequência cardíaca da pessoa durante o exercício.
E qual tanto tem que ser feito? O tanto que tem que ser feito é 150 minutos de atividade física; não precisa ficar uma hora seguida, três vezes por dia. Pode pegar 30 minutos, cinco vezes por dia, por exemplo; 20 minutos, sete vezes por dia; pode pegar um dia que faça mais, uma hora, e outro dia pegue um pouco menos.
E como eu recomendo os pacientes a fazerem isso? De maneira geral, é tentar colocar compromissos e, às vezes, aulas ou companheiros para poderem fazer a atividade física juntos.
Teve um estudo mostrando o que a pessoa faz e continua a fazer, e que a dificuldade mais do que começar a atividade física é começar e manter.
Um estudo mostrou o ‘tal’ do RUN Partner, que foi para corrida, mas serve para qualquer atividade física, que é o parceiro de corrida; o que é isso? É uma pessoa que quer começar a fazer atividade física, mas sozinho ‘não está tanto assim’ à vontade.
E outra que também quer fazer uma corrida e também não quer fazer sozinha, mas quando ambas combinam, tem o compromisso, o que facilita muito a manter a atividade física, porque sabe que deu a sua palavra para outra pessoa. E quase todo mundo tem ‘vergonha na cara’ e não quer faltar com a palavra com quem fez o combinado.
Então, uma não deixa a outra esmorecer, uma ajuda a dar força para a outra para que ambas deem continuidade na atividade física, porque mais difícil do que começar é manter a atividade física.
Por isso falo, o tipo de atividade física é aquele que a pessoa faça e continue fazendo, não adianta nada eu falar, “ah, musculação é ótima”, mas detesta musculação, não vai adiantar, ela tem que ter o mínimo de gosto por aquela atividade física.
Compromissos de horário costumam ser muito bons, por exemplo, aulas com horário, seja um pilates duas vezes na semana mais uma natação duas vezes na semana e um exercício de corrida duas vezes na semana, assim, faz atividade física seis vezes na semana e fica com a agenda preenchida.
Ou, então, de outra maneira, faz pilates duas vezes na semana e musculação, academia, três vezes, sendo que antes da parte de resistência faz um aeróbico, tipo uma esteira ou bicicleta, assim, vai mantendo o ritmo de atividade física. O que importa é fazer e continuar, 150 minutos por semana.
Por que personal trainer dá tão certo? Não é porque é caro que alguém paga para o personal, é muito mais porque tem uma pessoa esperando por você, então, se sente mal por ‘furar’ no compromisso, saber que uma pessoa parou o dia dela para estar te esperando para fazer uma atividade física, um treino com você e ‘fura’ com ela.
A maior parte das pessoas não quer ‘furar’ com a sua palavra, portanto, o fato de ter um compromisso com mais alguém faz muita diferença,
Igual na história do meu paciente, do Sr. Manuel, em que a filha começou a fazer atividade física com ele. De início, nunca tinha feito, é um senhor que veio do Nordeste, não é acostumado a fazer exercício em academia, a vida inteira batalhou bastante dentro do próprio trabalho, mas como teve o compromisso com a filha, isso motivou muito a dar continuidade.
E foi ótimo para ela, que começou a fazer atividade física também e os dois estão fazendo já há mais de ano com regularidade, 150 minutos por semana e suando, que é aquela atividade física que aumenta a frequência cardíaca em 50% a 60% da linha de base.
Tanto que passou um ano inteiro e não tive que mexer um nada nos medicamentos do Sr. Manuel, que ficou, tipo, com a mesma dose, a doença praticamente não evoluiu nada, ele é o mesmo dentro de um ano de acompanhamento mantendo a atividade física; eu espero que esse próximo ano continue assim.
E não é só ele, tenho outros pacientes que já são também disciplinados assim, como a Maria das Dores e outros, eu poderia citar vários aqui, mas o que importa é que é real isso, quem é disciplinado e faz a atividade física com regularidade tem os benefícios e já tem comprovação científica.
Este é o artigo sobre a atividade física e Doença de Parkinson, escreva nos comentários o que você acha sobre o assunto abordado. Tem gente que acha que é muito difícil, se a doença já deixa a pessoa mais ‘paradona’, como é que vai fazer atividade física se está meio devagar?
Ou, pelo contrário, ela se sente desafiada, “é agora minha chance de retardar a evolução da doença, é isso que já está comprovado, é isso que vou fazer para que a doença não me atinja mais ainda, que eu retarde a evolução da doença”.
Qual é a visão sua em relação à atividade física e Doença de Parkinson?
Se conhece um paciente parkinsoniano, envie o link deste artigo, ele pode, às vezes, tomar consciência da importância disso e começar, agora, uma atividade física.
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