Dependência de álcool e drogas
Vários autores consideram a dependência de álcool e drogas como uma doença do sistema de recompensa cerebral. (1) De fato todas as substâncias envolvidas na dependência afetam direta ou indiretamente na liberação da dopamina, com elevação exagerada desta substância e produzindo alterações no sistema de recompensa associadas a um círculo vicioso de preocupação com a obtenção da substância, craving, dependência e abstinência. (2)
Segundo o 3º Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira, realizado pela Fiocruz no período entre maio e outubro de 2015, a maconha é a droga ilícita mais utilizada no Brasil, em torno de 7,7% de brasileiros na idade entre 12 e 65 anos, sendo a cocaína em pó representando 3,1 %. O crack apresentou em torno de 0,9% entretanto há um viés nesta pesquisa que foi realizada em domicílio, sendo que grande parte dos usuários de crack acabam indo para as chamadas “cracolândias” e outros são moradores de rua, tornando este índice abaixo do esperado. (3)
O uso de álcool e ou drogas representam um grande problema de saúde pública pois afeta vários aspectos da sociedade, aí incluindo segurança pública, saúde e assistência social.(3)
O dependente químico está mais sujeito a se envolver em situações de violência, acidentes, problemas judiciais, grandes perdas sociais, profissionais e familiares. Além disso, o familiar acaba adoecendo pelo estresse desencadeado pelo cuidado ao paciente, muitas vezes tornando-se codependente. Uma característica que se destaca na dependência química é a falta de crítica em relação à própria doença, muitas vezes o paciente chega para o tratamento através de familiares ou devido a algum evento desencadeado pelo uso da substância, como por exemplo, overdose, acidentes ou envolvimento com alguma questão judicial. (4)
A dependência é caracterizada por
Tolerância: perda ou diminuição da sensibilidade aos efeitos da droga. O indivíduo necessita consumir maior quantidade para obter o mesmo efeito
Estreitamento de repertório: o paciente começa a realizar o consumo diário, independente de estar sozinho ou não, chegando a ter um padrão de consumo mais rígido, refratário e previsível ao dia ou horário da semana, independentemente de seu estado de humor.
Síndrome de abstinência: sinais e sintomas físicos e psíquicos oriundos da diminuição ou interrupção abrupta do consumo.
Saliência do consumo (ou comportamento de uso): a pessoa perde o controle sobre seu consumo, dando prioridade acima de tudo ao uso da substância em detrimento de outras atividades.
Alívio ou evitação dos sintomas de abstinência: o indivíduo utiliza a substância para aliviar os efeitos desagradáveis da síndrome de abstinência. Como por exemplo, um dependente de álcool que precisa tomar um gole para aliviar os tremores e a sensação subjetiva de ansiedade pela ausência de álcool.
Consciência subjetiva de compulsão do uso: é o chamado craving ou “fissura”, caracteriza-se pelo desejo intenso de utilizar a substância. Muitos indivíduos manifestam através do uso compulsivo “eu começo e não consigo parar mais de usar” ou a vontade intensa de consumir a substância.
Reinstalação da síndrome de dependência: é a recaída, mesmo depois de muito tempo que o indivíduo não usa mais a substância, ele pode retomar o padrão de uso anterior. (5)
A dependência é um transtorno que necessita de tratamento multidisciplinar, com indicação também de acompanhamento para os familiares pois o índice de “Burnout” e de codependência entre os familiares é extremamente alto, podendo prejudicar o tratamento. (6)
1. http://dx.doi.org/10.1016/j.euroneuro.2014.06.001
2. Stahl, Stephen M. Transtornos relacionados a substâncias e do controle de impulsos – Porto Alegre: Artmed, 2016.
3. https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/34614
4. http://www.periodicos.usp.br/smad/article/view/120766
5. Bordin, S Grandi, CG, Figlie, NB Laranjeira,R Sistemas diagnósticos em dependência química- Conceitos Básicos e Classificação Geral In Aconselhamento em dependência química/ Neliana Buzi Figlie, Selma Bordin, Ronaldo Laranjeira. 2. Ed – São Paulo : Roca, 2010 p. 3-9